O visitante que chega a Israel, país que vive em guerras desde que foi fundado em 1948, não percebe de imediato o momento agudo do conflito iniciado com os ataques terroristas do grupo palestino Hamas em 7 de outubro de 2023.
Há estranhamentos, principalmente para quem já havia visitado o país: o antes cheio pátio do Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, tinha pouquíssimos aeronaves.
À parte do Boeing-787 da espanhola Air Europa do qual a reportagem desembarcou, havia três aviões da local El Al, um da grega Aegean e outro, da emirati Etihad —sinal dos tempos de normalização entre o Estado judeu e as monarquias do golfo Pérsico.
Um dos motivos do ataque do Hamas e da política do Irã na região foi justamente interromper o processo, que levaria às pazes entre Israel e a Arábia Saudita, grande rival de Teerã. Com milhares morrendo em Gaza, fica impossível parar países árabes seguirem com o processo agora.
O aeroporto estava bem vazio, com alas inteiras fechadas. Em todo o caminho até a saída, placas amarelas indicam pontos de abrigo para o caso de ataques aéreos. Nesta tarde de segunda (23), manhã no Brasil, não houve nada.
Perto do controle de passaporte, a grande rampa de acesso tem uma instalação com fotos dos 251 reféns tomados pelo Hamas há quase um ano, dos quais 97 ainda estão em Gaza, 64 deles considerados ainda vivo.
A fita amarela que simboliza a luta pela volta deles às suas casas também é vista em cartazes e placas. Fora isso, normalidade tão ilusória quanto a paz com os sauditas, que nunca veio. O voo da Air Europa vindo de Madri estava quase com todos seus 298 assentos ocupados, mas não se via nenhum turista aparente.
A manobra de pouso traiu o tremor usual de quem opera em regiões conflituosas: em vez de uma longa e suave descida, que colocaria a aeronave na rota eventual de drones, o 787 fez uma volta brusca rumo à pista, descendo rapidamente.
Foi o único momento de silêncio entre os falantes judeus ortodoxos presentes no voo, que passaram a viagem cantarolando músicas religiosas e confraternizando.
O governo diz que houve uma queda de 80% no número de turistas nos meses iniciais da guerra, passando para uma média mensal de cerca de 50 mil. O saguão principal e os restaurantes do aeroporto, curiosamente, estavam lotados de locais.
Mas quem desembarcava recebia uma orientação discreta dos agentes de segurança para ir logo rumo ao táxi ou ao trem do terminal. O policiamento não era ostensivo, assim como no caminho do terminal para Jerusalém.
Na cidade sagrada dos três grandes monoteísmos, uma volta rápida pelo centro causava a estranha impressão de troca de papéis com Tel Aviv, o centro do Israel moderno e aberto.
O calçadão de Ben Yehuda tinha seus cafés lotados, enquanto ao telefone o médico Gideon Sharon, de Tel Aviv, falava à Folha sobre sua apreensão com a multiplicação dos alertas de ataque aéreo no aplicativo Tzofar. Geralmente, é a costeira Tel Aviv a cidade mais relaxada do país.
Sharon diz que ele e seus amigos temem a escalada da guerra, e que de forma geral há cansaço com um ano de crise aguda e a perspectiva de piora com a abertura da nova frente. Ao mesmo tempo, diz que é necessário “fazer algo” contra os inimigos de Israel.