Finalmente, fumaça branca surgiu de Mar-a-Lago. Duas semanas e meia após a eleição e mais de uma semana desde que parecia que um anúncio sobre a escolha do secretário do Tesouro estivesse por vir, Donald Trump finalmente tomou sua decisão. Na sexta (22), a campanha anunciou que Scott Bessent, um titã dos fundos de investimento, comandaria a 1.500 Pennsylvania Avenue, onde fica a sede do Tesouro. Tanto a nomeação de Bessent quanto a maneira como ele foi escolhido oferecem pistas sobre a política econômica durante um segundo mandato de Trump.
O presidente eleito fez uma escolha sensata. Bessent é um observador perspicaz dos mercados e tem um profundo entendimento de macroeconomia, o que lhe rendeu respeito em Wall Street. Em 1992, como jovem gestor de portfólio na Soros Fund Management, ele alertou Stanley Druckenmiller, um parceiro da empresa, de que o Banco da Inglaterra provavelmente não estaria disposto a defender a libra, já que a economia britânica estava em dificuldades.
Druckenmiller e George Soros realizaram uma das operações de investimento mais famosas e bem-sucedidas de todos os tempos: apostaram contra a libra esterlina e “quebraram o Banco da Inglaterra”, ganhando US$ 1 bilhão no processo. Quando Bessent decidiu administrar seu próprio fundo em 2015, ele o fez com um investimento de US$ 2 bilhões de Soros.
Bessent tem sido leal a Trump, doando generosamente para sua causa e disposto a largar tudo para aparecer na Fox News como “conselheiro econômico” da campanha. Quando o fazia, exaltava seu apoio ao Trumponomics —querendo renovar os cortes de impostos implementados durante o primeiro mandato de Trump, delineando uma agenda agressiva de desregulamentação e elogiando o presidente eleito como um negociador habilidoso quando se tratava de travar guerras comerciais.
Ainda assim, seu entendimento de economia provavelmente o levará a ter outras prioridades também. Em particular, Bessent parece se importar profundamente com a contenção da dívida do governo: ele caracterizou os grandes déficits e subsídios estatais da era Biden como um “retorno ao planejamento central” em um discurso em junho. Qualquer plano para reduzir o déficit quase certamente incluiria cortar os subsídios verdes na Lei de Redução da Inflação, uma lei promulgada em 2022 que ele descreveu como uma “máquina do juízo final” orçamentária.
Ele também, às vezes, pareceu morno em relação às tarifas maximalistas que Trump prometeu na campanha, descrevendo-as mais como uma posição de negociação do que uma política real (ele expôs algumas de suas ideias em um artigo de opinião em outubro). E ele parece menos inclinado a mexer com o dólar do que Trump, que frequentemente lamentou a força da moeda. Que ele acredita nas taxas de câmbio de mercado não é surpresa, dada sua carreira.
Embora tenha sido uma escolha sensata, o caminho para a nomeação de Bessent foi tudo menos isso —um espetáculo absurdo, envolvendo meia dúzia de candidatos e uma “luta de facas” entre Bessent e Howard Lutnick, o ousado chefe da Cantor Fitzgerald, uma firma de investimentos e co-presidente da equipe de transição de Trump. Lutnick acabou tendo que se contentar com a nomeação como Secretário de Comércio.
O processo mostrou que —apesar de ceder aos seus instintos mais selvagens quando se tratava de quase todos os outros departamentos— Trump queria seguir o caminho reto e estreito quando se tratava do Tesouro, preferindo um pedigree sério de Wall Street. Ele havia muito cobiçava Jamie Dimon, chefe do banco JPMorgan Chase, para o cargo.
Um impulso semelhante o levou a considerar John Paulson, outro titã dos fundos de investimento, e Marc Rowan, chefe da Apollo, uma bem-sucedida firma de mercados privados, bem como Kevin Warsh, um ex-membro do Fed, o Conselho da Reserva Federal. Ele também queria alguém que estivesse totalmente comprometido com o Trumponomics —dos cortes de impostos à desregulamentação e às tarifas. E ele estava desesperado para não escolher alguém que pudesse interromper o rali do mercado de ações pós-eleição.
Ninguém cumpriu todos esses critérios. Robert Lighthizer, um linha-dura do comércio, provavelmente nunca teve uma chance, porque o mercado teria caído em protesto. Enquanto isso, qualquer um dos tipos sérios de Wall Street que Trump favorecia era improvável de ser convencido por seus planos comerciais. Qualquer um deles teria acabado desempenhando o tipo de papel que Gary Cohn, um ex-executivo da Goldman Sachs e conselheiro econômico de Trump, ou Steven Mnuchin, o último secretário do Tesouro do presidente eleito, desempenhou em sua primeira administração. Eles eram a favor dos cortes de impostos e da desregulamentação, mas céticos em relação às guerras comerciais, uma mistura que levou a disputas explosivas no Salão Oval.
Ao finalmente escolher Bessent, Trump optou por seu instinto de manter os mercados felizes. Sua seleção sugere que ele realmente poderia ser restringido pela reação deles, pelo menos quando se trata de política econômica. Isso é uma boa notícia para quem está ansioso sobre quão radical ele pode ser no cargo.
Mas o processo também mostrou que Trump continua a ser arbitrário e imprevisível. Pouco mais de uma semana atrás, Bessent parecia prestes a ser nomeado —até que Lutnick começou a sussurrar no ouvido de Trump. À medida que a campanha de Lutnick se intensificava e ele conquistava o “primeiro amigo”, Elon Musk, os conselheiros se apressaram para defender o nome de Bessent, o que pode ter prolongado ainda mais o processo. Há pouca coisa que Trump odeia mais do que ser mandado a fazer algo.
Esta situação está longe de ser pacífica. Implica que o desejo de Trump de apaziguar os mercados estará em guerra com sua tendência de fazer algo irracional simplesmente porque está frustrado. Boa sorte, então, para Bessent.
Texto do The Economist, traduzido por Matheus Ferreira, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com