O ditador Nicolás Maduro afirmou numa transmissão ao vivo que a Venezuela faz parte do Brics, a despeito de o Brasil ter bloqueado a entrada de Caracas como parceira do bloco. O veto, ocorrido no mês passado, aprofundou a crise diplomática entre os vizinhos.
“Nosso ministro, que é vice-presidente do governo para comunicação e cultura, [esteve] em São Paulo, no Brasil, ratificando que somos do Brics”, disse o ditador, nesta quinta-feira (14), no programa “Maduro Live de Repente”. “[Foi] no meio de uma reunião de mídia do Sul Global [jargão em referência aos países emergentes], do Brics. Um gesto bonito.”
O bloqueio à entrada da Venezuela ocorreu na 16ª reunião do Brics, que aconteceu na cidade de Kazan, na Rússia, em outubro. O veto, porém, foi considerado controverso. Caracas tem relação estreita com Moscou de Vladimir Putin, que disse não concordar com o posicionamento brasileiro. “A Venezuela está lutando por sua sobrevivência”, afirmou o presidente russo na ocasião.
Desde que foi declarado vencedor em eleições amplamente apontadas como fraudulentas, Nicolás Maduro entrou em rota de colisão com o antigo aliado Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente brasileiro decidiu não reconhecer o resultado do pleito, levando a uma virtual ruptura com o regime.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela afirmou em nota que o veto ao Brics representou uma “atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional”. Depois, convocou seu embaixador em Brasília para consultas e criticou autoridades brasileiras —dentre elas, o “mensageiro do imperialismo norte-americano” Celso Amorim, nas palavras da pasta.
Já nos últimos dias Maduro passou a sinalizar alívio na tensão entre as partes. Na quarta (13), o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, disse que estava voltando para Brasília depois de ter sido chamado pelo regime para consultas.
O anúncio ocorreu dois dias após Maduro elogiar uma declaração feita por Lula sobre o processo eleitoral venezuelano. Em entrevista à RedeTV!, o líder petista afirmou que não tem o direito de questionar a decisão da Suprema Corte do vizinho, controlada pelo chavismo, que validou a disputa. “Eu acho que o Maduro é um problema da Venezuela, não é um problema do Brasil”, disse o brasileiro.
Em resposta, o ditador disse que o brasileiro fez uma “reflexão sábia”. “Vi [as declarações de Lula] nesta manhã, achei muito bom. Concordo com Lula. Cada país tem de buscar a maneira de resolver seus assuntos, seus problemas. O Brasil com suas instituições e sua dinâmica nacional, e a Venezuela com nossas instituições e dinâmica também soberana”, disse Maduro no programa semanal Con Maduro +.