O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse nesta sexta-feira (22) que Tel Aviv continua determinada a enviar tropas para a cidade de Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza onde mais de 1 milhão de palestinos fogem da guerra, e o faria sem o apoio dos Estados Unidos, se necessário.
A declaração foi feita por meio de um comunicado após um encontro com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Bibi, como o premiê é chamado, disse ter afirmado ao americano que não há como derrotar o Hamas sem entrar em Rafah. “Eu disse a ele que espero fazer isso com o apoio dos EUA, mas, se precisarmos, faremos sozinhos”, afirmou.
Esta é a sexta viagem do americano ao Oriente Médio desde o início da guerra, no dia 7 de outubro, e acontece em meio a um dos períodos de maior tensão entre os dois aliados em décadas. Nas últimas semanas, o presidente dos EUA, Joe Biden, chamou a campanha de Israel na guerra em Gaza de “exagerada” e disse que o conflito teve um grande impacto na vida dos civis.
Antes da reunião, que durou cerca de 40 minutos e antecedeu um encontro com o gabinete de guerra, Blinken disse que abordaria a crescente divisão entre os dois países e pressionaria Netanyahu a tomar medidas urgentes para permitir a entrada de mais ajuda humanitária no território palestino, onde um cenário de morte em massa por fome é iminente, de acordo com as ONU.
A visita incluiu um encontro com o príncipe herdeiro da Árabia Saudita, Mohammed bin Salman, na quarta (20), e conversas com ministros e autoridades de nações árabes no Cairo, na quinta (21).
Inicialmente, a viagem a Israel nessa nova rodada de diplomacia na região não estava nos planos de Blinken, mas o país foi incluído na última quarta. Reuniões paralelas também estão ocorrendo na capital do Qatar, Doha, com o objetivo de garantir um cessar-fogo no conflito —no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os esforços para uma trégua naufragaram mais uma vez, desta vez com o veto de Rússia e China a uma resolução proposta pelos EUA.
Última cidade de Gaza que ainda não foi alvo de uma operação terrestre maciça das forças israelenses, Rafah se tornou uma questão central para o desgaste entre a Casa Branca e o governo de Netanyahu. Biden chegou a dizer em entrevista que a abordagem do premiê em relação à guerra “mais prejudicava do que ajudava” Israel e que Rafah representava “uma linha vermelha”, um limite intransponível à ação de Tel Aviv.
Superlotada, a cidade abriga hoje cerca de 1,5 milhão dos 2,2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, e os relatos de desabastecimento e fome devido à restrita ajuda humanitária diante do bloqueio imposto por Israel se avolumam.
Autoridades dos EUA afirmam que o número de entregas de ajuda por terra precisa aumentar rapidamente. “Cem por cento da população de Gaza está passando por níveis severos de insegurança alimentar aguda. Não podemos, não devemos permitir que isso continue”, disse Blinken em uma coletiva de imprensa na quinta.
Israel nega os múltiplos relatos de fome na região. O coronel israelense Moshe Tetro, por exemplo, disse que o Exército não acredita na possibilidade de escassez de alimentos no território. “Até onde sabemos, por nossa análise, não há fome em Gaza. Há uma quantidade suficiente de alimentos entrando todos os dias”, disse ele a jornalistas.