O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reuniu-se com Elon Musk na Califórnia, nos Estados Unidos, para discutir tecnologia nesta segunda-feira (18). Ao longo da conversa —transmitida ao vivo pelo X, o antigo Twitter, que o empresário adquiriu em outubro passado—, ficou claro, no entanto, que cada um dos participantes estava sendo movido por interesses distintos daquele da pauta do dia, a evolução da inteligência artificial.
Para Musk, o evento era uma oportunidade para acalmar os ânimos da comunidade judaica americana, com quem ele trava uma briga pública desde que a Liga Antidifamação, ADL na sigla em inglês, acusou o empresário de tornar o X mais tolerante a discursos antissemitas desde que assumiu o comando da plataforma.
Já Netanyahu, que desembarcou em solo americano por ocasião da abertura da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, na terça-feira, buscava de certa forma reconquistar o respeito do setor de tecnologia de seu país, um de muitos setores israelenses a se opor a seus planos de promover uma reforma legislativa que, ao minar a independência do Judiciário, ameaça o Estado de Direito no país.
O premiê, que chegou a comparar Musk ao inventor Thomas Edison, logo guiou a conversa para a questão da moderação de conteúdo no X que tanto incomoda a comunidade judaica americana. “Sei que você está comprometido com isso, mas eu o encorajo e o insto a encontrar um equilíbrio”, disse Bibi, como o líder é conhecido, a certa altura. Ele também disse que tentaria encorajar o bilionário a investir em Israel.
Netanyahu tem sido acusado por empresários da tecnologia de afastar investimentos estrangeiros ao promover a reforma judicial. Sem o influxo, o shekel, moeda local, sofreu uma desvalorização de 9% em comparação com o dólar desde o início do ano.
O projeto também prejudicou as relações de Tel Aviv com Washington, seu maior aliado no cenário internacional. O presidente Joe Biden criticou abertamente o plano em diversas ocasiões, e já afirmou que a atual administração israelense, formada por uma coalizão de ultradireita, é “a mais radical” da história da nação no Oriente Médio.
Netanyahu, aliás, ainda tinha esperanças de receber um convite de Biden para uma reunião na Casa Branca com sua ida aos EUA esta semana. Ele não se reúne pessoalmente com o democrata desde que assumiu o cargo de premiê, no final do ano passado —uma demora pouco característica dada a proximidade histórica dos países. Mas um anúncio do governo americano no final da semana passada frustrou essa esperança ao declarar que os líderes americano e israelense se encontrarão às margens da Assembleia-Geral.
O presidente dos EUA e o setor tecnológico que fez Israel ganhar a alcunha de “nação startup” estão longe de ser os únicos a se oporem à reforma judicial. Protestos contra o plano têm atraído milhares de israelenses às ruas desde o início do ano, e acompanharam Netanyahu também aos EUA, com manifestantes seguindo-o a partir do aeroporto em San Jose, cercando a fábrica da Tesla em Fremont onde ele conversou com Musk pela manhã, e depois migrando para a Union Square, em San Francisco.
O premiê só recebeu evasivas de Musk ao abordar a questão da moderação de conteúdo ao longo do debate. O empresário recusou-se a se comprometer com a implementação de ferramentas mais duras para limitar a proliferação de publicações com conteúdo antissemita, dizendo que, embora ele seja pessoalmente contra discursos de ódio, “a liberdade de expressão significa, às vezes, que alguém que você não gosta está dizendo algo que você não gosta”.
Organizações de defesa dos direitos civis afirmam que o volume de discurso de ódio no X cresceu dramaticamente desde que o empresário assumiu o comando da rede. O Centro Contra o Ódio Digital afirmou, por exemplo, que sob o bilionário, a quantidade diária de insultos racistas usados contra negros triplicou em relação à média de 2022. No mesmo período, o uso de termos pejorativos para se referir a homens homossexuais e pessoas trans aumentou 58% e 62%, respectivamente.
Musk, que equipara moderação de conteúdo a censura, tem visto seus incentivos à liberdade de expressão sem limites se tornarem um entrave ao crescimento dos negócios do X. AJ Brown, ex-diretor da área de segurança de marca e qualidade de anúncios do Twitter, afirmou neste mês à agência de notícias Reuters que a política de moderação de conteúdo implementada pelo bilionário tornou mais difícil convencer empresas de que o ambiente do X é seguro para anúncios.