O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, deu a entender que o estabelecimento de relações diplomáticas entre seu país e a Arábia Saudita é iminente em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta sexta-feira (22).
O premiê defendeu os Acordos de Abraão, que permitiram a Israel inaugurar laços diplomáticos com Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos ante a chamada solução de dois Estados, que prevê a criação de um Estado da Palestina. A aproximação entre Tel Aviv e Riad, descrita como um novo capítulo dos acordos, representaria uma revolução “ainda mais dramática” para a região, disse ele.
“Essa paz fará muito para encerrar o conflito árabe-israelense. Inspirará outros Estados árabes a normalizarem suas relações com Israel. Aumentará as chances de paz com os palestinos. Encorajará uma reconciliação mais ampla entre o judaísmo e o islamismo”, afirmou Netanyahu.
Em dado momento da fala, o premiê mostrou um mapa com título “o novo Oriente Médio” e desenhou uma linha representando o que chamou de “corredor de paz e prosperidade” passando por Emirados Árabes, Arábia Saudita, Jordânia e Israel e “conectando Ásia e Europa”.
Os sauditas, por enquanto, parecem menos entusiasmados. Embora o príncipe-herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, tenha afirmado na quarta-feira (20) que seu país está “cada dia mais perto” de chegar a um acordo com Israel, ele ressaltou que o reino ainda busca garantias em relação aos direitos dos palestinos para assinar eventual tratado de reconhecimento. Segundo a programação da Assembleia-Geral, os sauditas, representados pelo ministro das Relações Exteriores, estarão no púlpito da ONU neste sábado (23).
O tema dominou o encontro que Netanyahu teve com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no início da semana —o primeiro desde que o premiê israelense voltou ao poder, em dezembro passado.
“Eu acredito que sob sua liderança [de Biden], podemos forjar uma paz histórica entre Israel e Arábia Saudita”, afirmou Netanyahu na ocasião do encontro. “Tal paz seria um grande avanço para encerrar o conflito árabe-israelense, alcançar a reconciliação entre o mundo islâmico e o Estado judeu e promover uma paz genuína entre Israel e os palestinos.”
A reunião, em Nova York, foi contudo agridoce para o israelense, que esperava um convite para ir à Casa Branca antes da Assembleia-Geral das Nações Unidas —Biden só o convidou depois da reunião dessa semana para retornar antes do fim do ano a Washington.
Com o domínio na conversa das questões diplomáticas no Oriente Médio, os dois líderes discutiram apenas superficialmente a crise interna que Israel vive desde o início do ano em razão de uma reforma judicial que, defendida pela coalizão de ultradireita de Netanyahu, ameaça o Estado de Direito, segundo juristas.
Embora o príncipe-herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, tenha afirmado na quarta-feira (20) que seu país está “cada dia mais perto” de chegar a um acordo com Israel, ele ressaltou que o reino ainda busca garantias em relação aos direitos dos palestinos para assinar o tratado.
De acordo com a rede Bloomberg, a Casa Branca considera assinar pactos de defesa com os dois países do Oriente Médio como parte do plano para levar avançar o reconhecimento recíproco entre os dois aliados de Washington.
Bibi, como Netanyahu é conhecido, ainda aproveitou sua presença na ONU nesta sexta para criticar diretamente o presidente da Autoridade Palestina, Mohammad Abbas— que, também na Assembleia-Geral, na quinta (21), chamou Israel de racista pediu às Nações Unidas que fossem mais enfáticas contra Tel Aviv.
O premiê israelense lembrou a última declaração controversa do líder árabe, em que afirmou que o Holocausto promovido por Adolf Hitler não estava relacionado com antissemitismo, e acusou sua administração de financiar e aplaudir terroristas.
A coalizão que ascendeu ao poder com Bibi tem sido responsável por multiplicar o número de incursões do Exército israelense à Cisjordânia ocupada. Segundo cálculos da agência de notícias AFP, só desde o início do ano os conflitos já causaram a morte de ao menos 226 palestinos, além de 32 israelenses.
Netanyahu finalizou seu discurso com um apelo ao desenvolvimento ético e responsável da inteligência artificial. “Nosso objetivo deve ser que a IA traga mais liberdade, e não menos; previna guerras, em vez de começá-las; e garantir que pessoas vivam vidas melhores, mais longas, saudáveis e produtivas”, afirmou.
Empresários do setor de tecnologia de Israel têm sido críticos à reforma judicial que o governo do premiê tenta avançar, acusando-o de afastar investimentos estrangeiros com a medida. O shekel, moeda local, sofreu desvalorização de 9% em comparação com o dólar desde o início do ano.
Às margens da Assembleia-Geral, Bibi se encontrou com Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), e pressionou o bilionário em transmissão ao vivo na plataforma para frear discurso antissemita no site. O premiê, contudo, também elogiou Musk e afirmou que tentaria convencer o empresário a investir em Israel, em aceno ao setor tecnológico do país.