As mudanças climáticas aumentam exponencialmente os riscos de incêndios florestais de rápida propagação. É o que mostra um estudo publicado nesta quarta-feira (30), com novas pistas para a prevenção após as recentes catástrofes ocorridas em Canadá, Grécia e Havaí.
O aquecimento causado pelo homem aumentou em 25%, em média, a frequência dos incêndios florestais extremos em comparação à era pré-industrial, concluiu esse estudo publicado na revista Nature pelo Breakthrough Institute, da Califórnia.
Ao examinar uma série de incêndios de 2003 a 2020, os cientistas analisaram o efeito das temperaturas médias mais elevadas e de condições mais secas nos incêndios de propagação muito rápida, ou seja, aqueles que queimam mais de 4.000 hectares por dia.
O efeito das mudanças climáticas varia: sob condições de seca parcial, o aquecimento foi suficiente para exceder os limites-chave de umidade do ar ou da vegetação que tornam os incêndios extremos muito mais prováveis, enquanto o impacto do aquecimento é muito menos nítido em condições já muito secas.
“Isso significa que nós devemos dar mais atenção aos locais e aos períodos que, historicamente, experimentaram condições logo abaixo desses limites”, disse à AFP o autor principal do estudo, Patrick Brown.
Queimadas preventivas
O risco pode aumentar em média 59% até o fim do século em um cenário de baixas emissões (+1,8°C de aquecimento em relação ao clima da era pré-industrial), e até 172% em um cenário incontrolável de fortes emissões. O clima já sofreu um aquecimento de 1,2°C.
Segundo Brown, a identificação de limiares-chave de seca pode facilitar as medidas de prevenção, ajudando a escolher os locais prioritários para a derrubada ou a queima controlada da vegetação, a fim de reduzir o combustível seco dos quais os incêndios se alimentam.
“Na maioria das condições, o impacto das reduções de combustíveis perigosos pode compensar totalmente o efeito das mudanças climáticas”, diz o especialista, que avalia também que “o risco de incêndio pode diminuir consideravelmente apesar das mudanças climáticas” se essas medidas forem aplicadas em larga escala.
Os resultados também podem ajudar a orientar melhor as campanhas de vigilância e o deslocamento dos meios de combate aos incêndios.
O estudo foi publicado ao final de um verão no hemisfério norte marcado por incêndios que mataram pelo menos 115 pessoas no Havaí e bateram todos os recordes no Canadá, onde 200 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. Na Grécia, o maior incêndio florestal já registrado na União Europeia, avança em uma frente de dez quilômetros.