Incredulidade foi o sentimento geral no Chile nesta terça-feira (6), à medida que as primeiras informações de que o ex-presidente Sebastián Piñera havia morrido num acidente de helicóptero começavam a chegar por mensagens e perfis de redes sociais.
Além da notícia em si, houve uma questão de “timing”. O país ainda tenta se reerguer dos incêndios que se iniciaram apenas cinco dias antes, na última sexta-feira (2), queimando bairros inteiros e matando mais de 130 pessoas na região de Viña del Mar, a uma hora e meia de Santiago.
“Não pode ser. Será que é fake news?”, dizia o motorista Robinson Adasme, 62, ao atender o telefone e receber a notícia por um amigo em frente ao IML (Instituto Médico Legal) da cidade vizinha Valparaíso, onde dezenas de corpos continuam sendo reconhecidos.
“Parece que estamos vivendo dentro de uma série”, comentava uma vendedora ambulante, enquanto Rojas tentava ter certeza da informação em diferentes sites de notícia. “Eu sempre fui de conversar com algumas pessoas sobre o que está acontecendo no país”, diz ele.
Piñera faleceu enquanto pilotava o helicóptero, que caiu num lago na região centro-sul chilena de Los Ríos, por causas que agora serão investigadas. Outros três membros de sua família que estavam na aeronave sobreviveram porque conseguiram sair e nadar até as margens.
Ainda não se sabe por que o ex-presidente não deixou o veículo como os outros passageiros —alguns relatos na imprensa dizem que ele não teria conseguido soltar o cinto e teria ficado preso na aeronave, enquanto outros mencionam um possível infarto.
Nos primeiros momentos, a morte gerou dúvidas nos chilenos sobre sua veracidade e também sobre o modo como ocorreu, com a confirmação vindo tempos depois. Um internauta conta que soube por amigos argentinos, já que as primeiras informações oficiais partiram da embaixada do país vizinho.
Em grupos da imprensa, gerou-se uma cascata de jornalistas duvidando da informação, até que a ministra do Interior e Segurança Pública, Carolina Tohá, surgiu em frente às câmeras para dizer que o atual presidente, Gabriel Boric, “determinou que se realize um funeral de Estado e que se declare luto nacional”.
“Queremos expressar nossa comoção por essa tragédia, enviar o nosso abraço solidário à família do ex-presidente e a todos que são próximos a ele, mas também a todas as chilenas e chilenos”, afirmou ela. “Ele nos governou e será lembrado pela maneira como dedicou a sua vida ao serviço público.”
Piñera foi um empresário bilionário e uma importante liderança da direita no Chile, sendo eleito duas vezes, de 2010 a 2014 e de 2018 a 2022. Sua morte originou discussões na internet refletindo a polarização no país, com gente “comemorando” ou condenando a comemoração do ocorrido.
“A morte de uma pessoa não pode ser motivo de alegria ou memes. As diferença políticas são só isso: diferenças. Outra coisa é carecer de humanidade”, diz uma imagem compartilhada num grupo de mensagens do qual o motorista Adasme faz parte.