“Depois de uma longa batalha contra o câncer, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de sair ao encontro do Senhor. Pedimos a quem o admirou que nos acompanhe com uma oração pelo descanso eterno da sua alma. Muito obrigado pai!”, diz a publicação no X de Keiko Fujimori, assinado por ela e pelos irmãos.
Nascido em Lima, em 28 de julho de 1938, filho de imigrantes japoneses, Fujimori se formou em engenharia agrônoma na universidade local. Mais tarde, viajaria para se especializar nos Estados Unidos e na França, nas universidades de Wisconsin e de Estrasburgo.
Ao voltar ao Peru, passou a apresentar o programa de TV “Consertando”, no qual oferecia propostas de soluções estruturais e econômicas ao país.
Em 1989, resolveu lançar-se candidato a presidente. Sua campanha eleitoral foi marcada por viagens a regiões e bairros populares tidas como esquecidas por políticos tradicionais, onde se mostrava como um homem do povo, mas preparado pela sua formação acadêmica e técnica a resolver os problemas do país, que explicava de modo paciente, mas também autoritário e reafirmando que teria uma política de tolerância zero contra a “delinquência”.
Seus discursos conclamavam multidões em que ele, curiosamente, acusava seus opositores de empunharem bandeiras neoliberais (que ele depois abraçaria). Sua retórica era voltada para o eleitor de classe média e baixa, de origem imigrante, como ele, indígena e camponês.
Era um tempo em que os eleitores peruanos se afligiam com a alta inflação e a violência da guerrilha esquerdista Sendero Luminoso, que já havia atingido os bairros de periferia das grandes cidades.
Fujimori prometia que a segurança seria uma de suas prioridades, e até hoje por isso é celebrado por seus apoiadores.
Ele saiu vencedor de um segundo turno contra o hoje Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa. Fujimori parecia ser o candidato que representava o novo, enquanto Vargas Llosa, o conservador, o filho rico da elite limenha que sempre havia sido privilegiado pelas urnas.
Fujimori venceu o escritor com uma vitória contundente, de 56,5% dos votos. Pouco depois, porém, começou a adotar políticas de ajustes, de austeridade e ampliou um projeto de privatizações, o chamado “Fujishock”, que rapidamente baixou a inflação, mas causou demissões e aumentou o clima de tensão social.
Em 1992, com o Congresso voltado contra o presidente, Fujimori deu o chamado “autogolpe”, fechando o parlamento, com apoio militar e com tanques nas ruas, declarando o país em estado de emergência, estabelecendo toques de recolher em bairros de alta criminalidade.
Chamou uma nova Constituinte, composta basicamente por legisladores fujimoristas, que redigiram a Carta de 1993.
Neoliberal na economia, Fujimori foi linha-dura na área de segurança. Sua luta contra o Sendero Luminoso incluiu armar as “guardas rurais”, milícias cidadãs que lutaram contra a guerrilha. Nesta guerra brutal entre Exército, milícias cidadãs e o Sendero Luminoso, estima-se que mais de 70 mil peruanos tenha morrido.
Sua maior vitória ocorreu em 1992, quando conseguiu prender o cabeça da guerrilha, Abimael Guzmán, que cumpriu mais de 25 anos de cativeiro e morreu em setembro de 2021.
As acusações de corrupção contra o presidente, porém, foram crescendo, a ponto de sua própria mulher apontá-lo como um corrupto. Com isso, Fujimori separou-se de Susana Higuchi e lhe retirou as funções de primeira-dama, colocando no lugar dela a filha mais velha, Keiko.
Higuchi tentou ela mesma concorrer em eleições para vencer o marido, em 1995, mas, antes disso, ele fez com que o Congresso aprovasse uma lei que impedia parentes diretos de concorrer a eleições consecutivas a de seus familiares.
Fujimori foi então reeleito, com 64% dos votos. Em seu segundo período, despontou com mais projeção a figura de Vladimiro Montesinos, chefe da polícia secreta e homem forte do governo, que exercia grande pressão contra os meios de comunicação opositores e foi se tornando um elo essencial entre governo, militares e empresários.
Montesinos, que também se encontra preso, foi condenado por corrupção e abusos de direitos humanos.
Outra ação pela qual Fujimori é lembrado é o desmonte da invasão da embaixada japonesa, em 1996, pelo movimento Tupac Amaru, que durou de dezembro desse ano até abril de 1997, com 72 reféns em poder dos sequestradores. O episódio terminou com a invasão da embaixada pelo Exército, depois de uma articulada operação (chamada de Chavín de Huántar) que envolveu ações de inteligência e espionagem. Ao final, os reféns foram liberados e os 14 terroristas foram assassinados no local.
Fujimori tentou concorrer a um terceiro mandato. No primeiro turno, conseguiu 49% dos votos. Seu competidor mais próximo, Alejandro Toledo, denunciou então que havia fraude e se negou a seguir no pleito.
A essa altura, as acusações de corrupção contra o presidente e Montesinos ganharam tal proporção _com a divulgação dos chamados “vladivideos”, que mostravam pagamentos de propinas a congressistas_ que Fujimori resolveu deixar o país, indo para o Japão, onde pôde abrigar-se por ter cidadania japonesa. Tentou pedir sua renúncia à distância, mas o recurso não foi aceito pelo parlamento, que declarou sua vacância do cargo.
Apesar dos pedidos da Justiça peruana, o Japão se recusava a extraditar Fujimori, por ser ele um cidadão japonês. Em 2005, porém, numa viagem ao Chile, realizada com o propósito de reatar conexões políticas no Peru, Fujimori foi preso e extraditado pela Justiça chilena, durante o governo do socialista Ricardo Lagos.
Em 2007, começou o processo de julgamento de Fujimori no Peru. Depois de 15 meses, foi condenado por comandar esquadrões da morte que realizaram sequestros, tortura e mortes, além de ser apontado também como cabeça de um esquema de corrupção. Foi então transferido para a penitenciária de Barbadillo, onde permaneceu até a noite de 23 de dezembro de 2017, quando foi enviado a uma clínica por um mal-estar cardíaco.
Não foi preciso esperar a alta. Alguns dias antes, numa ação no Congresso, o presidente Pedro Pablo Kuczynski foi salvo por fujimoristas que então haviam barganhado a continuação de PPK no cargo pelo indulto. Este veio, então, em 24 de dezembro de 2017.
Este indulto foi revogado em 2019, levando Fujimori de volta à prisão de Barbadilllo, para cumprir sua pena do ponto em que a havia deixado.
Em dezembro de 2023, o Tribunal Constitucional do Peru finalmente o liberou para cumprir o resto da pena na casa de sua filha, Keiko.
Fujimori ficou sem responder, até porque esses processos ainda estejam em andamento na Justiça, pelos massacres contra civis por meio de um esquadrão da morte sob seu comando e pelo plano sistemático de esterilizações sem consentimento de mais de 200 mil peruanas, dentro de um programa de “planificação familiar” que não contemplava a consulta aos esterilizados antes do procedimento.
Embora tenha sido liberado por avançada idade e por alegar estar muito doente (em maio de 2024, já fora da prisão, o ex-ditador revelou nas redes sociais que um tumor maligno havia sido detectado em sua língua), Fujimori tentava reestabelecer sua imagem numa intensa campanha nas redes sociais.
O ex-ditador mantinha uma conta no TikTok com mais de 170 mil seguidores, e um podcast, em que relatava aspectos de seu governo e defende o seu ponto de vista sobre os anos em que passou pelo poder.
Em junho de 2024, aos 85 anos, Fujimori chegou a anunciar nas redes sociais o seu retorno à política peruana —seis meses após ter sido solto da prisão—, mas uma queda em seu quarto uma semana depois adiou os planos e ele foi internado com fratura nos quadris. Ele já estava sendo cotado para lançar candidatura do Senado ou à Presidência em 2026.