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Milei, Borges, Francisco e Maradona entram num bar – 22/11/2023 – José Manuel Diogo

Che! Imagino-me no coração de Buenos Aires, em um bar saído diretamente de um romance de Gabriel García Márquez, como se ele tivesse nascido argentino.

As paredes são um panteão do peronismo, uma aula de história com uma pitada de telenovela. Entre uma foto de Evita acenando dramaticamente e outra de Perón em um piquenique descontraído, a decoração é um mix eclético entre o dramático e o mundano.

Lá, um lustre desproporcionalmente grande, provavelmente roubado de um set de filmagem antigo, ilumina a cena com um brilho dourado, enquanto um tango, saído de um velho gramofone, sussurra histórias de amores perdidos e paixões desenfreadas.

Entram quatro personagens neste cenário. Aparentemente não se conhecem, mas escolhem a mesma mesa que parece ter sido selecionada especialmente para um filme noir, com cadeiras de couro que já viram dias melhores e um tampo que balança mais que um dançarino de tango em seus últimos passos.

Eles se sentam, formando um quadro digno de ser pintado. Milei, com um traje tão formal que beira o sarcasmo, contrasta com Borges, que parece ter se esquecido de sair de uma biblioteca do século 19.

Francisco, em sua simplicidade franciscana, parece estar se perguntando se não entrou por engano em um set de filmagem, enquanto Maradona, com uma camisa da seleção tão brilhante que poderia ofuscar o sol, dá um toque final de extravagância.

Juntos, eles parecem um grupo de personagens de uma peça de teatro esperando que o diretor grite “ação!”, enquanto o barman, acostumado com essa mistura surreal de clientes, apenas dá de ombros e pergunta: “O de sempre, senhores?”

Milei (com um sorriso triunfal): “Che, amigos! Finalmente, a Argentina enxergou a luz! Uma luz tão brilhante quanto a do meu plano econômico!”.

Borges (com postura arrogante): “Ah, Javier, sua visão é tão clara quanto as metáforas de ‘O Aleph’. Um enigma que só é decifrável por você”.

Francisco (com um sorriso afável): “E que Deus nos ajude a desvendar esse enigma, esperando que ele não seja apenas uma miragem política no horizonte”.

Maradona (dando uma gargalhada): “Ei, Milei! Vai lidar com a inflação como eu lido com a defesa em campo? Deixando-os tontos?”.

Milei (com entusiasmo): “Mais do que isso, Diego! Vou fazer a inflação desaparecer mais rápido do que um torcedor no Bombonera depois de um gol contra”.

Borges (com um sorriso irônico): “Fascinante, Javier. Sua economia promete tanto quanto uma de minhas ficções: rica em imaginação, mas sem viabilidade prática”.

Francisco (cauteloso): “Lembre-se, Javier, grandes promessas implicam grandes responsabilidades. Espero que elas não se percam na tradução”.

Maradona (rindo): “Se elas se perderem, me ligue. Sou especialista em encontrar caminhos em campos minados!”.

Milei (com energia): “Preparem-se para o renascimento argentino! Vamos transformar essa economia como se num passe de mágica”.

Borges (ainda mais irônico): “Espero que essa mágica não se dissipe em fumaça, Javier. Nossas esperanças já estão bastante dispersas ao vento”.

Francisco (sempre sorrindo): “E que essa transformação traga mais justiça e menos ilusões”.

Maradona (levantando sua taça): “Que a Argentina faça um golaço na economia mundial, e desta vez sem a mão de Deus!”.

E todos brindam, rindo muito, imersos na complexidade da nova velha Argentina, sem entender que estão apenas delirando em um diálogo sobre outro diálogo sobre o intrincado argumento da inexistência de Deus.

Mas che!


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Fonte: Folha de São Paulo

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