Milhares de manifestantes foram à ruas na França neste fim de semana para exigir leis mais rígidas sobre violência contra mulheres.
Os protestos ocorrem em meio ao julgamento do caso de Gisèle Pelicot, que durante uma década foi drogada e estuprada em estado inconsciente por dezenas de homens recrutados por seu marido, que filmava os atos.
As manifestações, convocadas por mais de 400 organizações, foram realizadas na véspera da celebração, nesta segunda-feira (25), do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher.
As audiências do julgamento em Avignon (sudoeste) foram públicas, a pedido da própria Gisèle Pelicot. A ideia era incentivar vítimas de violência sexual a “não ter mais vergonha” para denunciar seus agressores.
Nos protestos, muitos manifestantes empunhavam cartazes com o lema: “A vergonha deve mudar de lado”.
“Quanto mais formos, mais visíveis seremos, isso é coisa de todos, não só das mulheres”, disse na manifestação de Paris a funcionária pública Peggy Plou.
“É preciso promulgar rapidamente uma lei sobre o consentimento. O fato de alguém não dizer nada não significa que está de acordo” em manter uma relação sexual, afirmou Marie-Claire Abiker, 78, enfermeira aposentada e que também participou da marcha na capital.
A lei francesa define o estupro como “qualquer ato de penetração sexual (…) por violência, coação, ameaça ou surpresa”. Não há nela nenhuma referência ao consentimento, um assunto que ganhou uma importância determinante desde o surgimento do movimento #MeToo no final da década de 2010.
A marcha de Paris reuniu milhares de pessoas, em sua maioria mulheres, embora também se vissem muitos homens e crianças.
A polícia estimou que 12.500 pessoas participaram, enquanto os organizadores afirmaram que foram 80 mil.
Também houve atos em Marselha (sul), Lille (norte) e Rennes (noroeste), entre muitas outras cidades.
Em todo o país, o número de manifestantes foi de 35 mil, segundo a polícia, e de 100 mil, segundo os organizadores.
“Em 2018, basicamente só havia mulheres” nas manifestações. “Hoje há, digamos, 30% de homens. Isso é realmente uma grande notícia”, destacou Amy Bah, do grupo feminista “NousToutes” (“TodasNós”) na marcha de Lille.
“Todos temos um papel” para mudar a situação, “especialmente os homens”, disse Arnaud Garcette, 38, que compareceu à marcha de Marselha com seus dois filhos.
Um protesto paralelo promovido neste domingo (24) pelo grupo feminista Femen reuniu cerca de 100 mulheres em frente ao museu do Louvre, em Paris.
Com os seios à mostra e frases como “parem a guerra contra mulheres” e “mulher, vida, liberdade”, elas realizaram um ato simbólico de retirada de um véu sobre a cabeça, em referência à perseguição de mulheres iranianas pelo regime de Teerã por protestar pela igualdade de gênero.