Fito, o líder da maior quadrilha de tráfico de drogas do Equador fugiu da prisão no domingo (7), informou o governo do do recém-empossado presidente Daniel Noboa nesta segunda-feira (8), no que se desenha como uma nova crise no sistema penitenciário local.
Durante a noite, Noboa anunciou que o país entraria em um novo estado de exceção para facilitar o trabalho das Forças Armadas. Ele afirmou que sua decisão vem em resposta às “tentativas dos grupos ‘narco-terroristas’ de nos amedrontar”.
As autoridades demoraram a reconhecer publicamente a fuga do criminoso. Mas já disseram que um efetivo de 3.000 agentes de segurança está nas ruas atrás do que descrevem como a busca urgente pelo “prisioneiro mais procurado”.
O estado de exceção tem se tornado uma prática corriqueira no Equador, na contramão do que prega o próprio nome dessa medida. Com ele, autoridades podem suspender o direito da chamada inviolabilidade das residências, da liberdade de trânsito no espaço público, de reuniões e de acesso à informação. Um presidente pode fazer uso da medida sempre que haja uma agressão, um conflito armado ou uma grame comoção interna ou desastre natural.
Mas justamente por ser tão usado, normalmente mais de uma vez ao ano, a medida caiu em descrédito e virou alvo de muitas críticas, em especial por ampliar a militarização da sociedade.
O secretário de Comunicação Roberto Izurieta afirmou a uma TV local que “é muito provável” que tenha havido “infiltrações” na prisão poucas horas antes de uma operação que seria realizada ali, momento no qual Adolfo Macías, 44, conhecido como Fito, escapou.
O Ministério Público abriu uma investigação sobre a fuga do chefe dos Choneros, o cartel mais temido do país sul-americano e que disputa as rotas do tráfico de drogas com outros grupos com conexões com cartéis do México e da Colômbia.
Fito, que estava preso na Penitenciária Regional de Guayaquil, com capacidade para cerca de 4.400 pessoas, cumpria desde 2011 uma pena de 34 anos por crime organizado, tráfico de drogas e assassinato.
Ele foi um dos principais nomes apontado nas investigações, ainda inconclusas, sobre o assassinato do candidato à Presidência Fernando Villavicencio, em agosto passado. Isso porque, dias antes de ser morto a tiros durante um comício, o jornalista e deputado havia dito na rede X que Fito estava ameaçando a ele e a sua equipe.
Esta seria a segunda vez que ele escapa da prisão. Em 2013, junto com outros presos, o traficante conseguiu burlar os controles da prisão de segurança máxima conhecida como La Roca, também em Guayaquil, mas foi recapturado após três meses.
O secretário de Comunicação Roberto Izurieta afirmou que “a força do Estado está em ação para encontrar esse sujeito extremamente perigoso”. O próprio Izurieta lamentou que “o nível de infiltração” dos grupos criminosos no Estado seja “muito grande” e classificou o sistema penitenciário equatoriano como “falido”.
A imprensa local relatou que, nesta segunda-feira, ocorreram incidentes preocupantes em várias prisões do país, e o sistema penitenciário confirmou que, em cinco centros de detenção, agentes estão sendo feitos reféns.
Circularam nas redes sociais vídeos gravados em diferentes locais nos quais agentes penitenciários podem pela preservação de suas vidas enquanto encapuzados os ameaçam com facas.
Os guardas leem um comunicado no qual pedem a Noboa que “não envie tropas para as prisões que sejam esquadrões da morte”. “Estamos agora implorando para que sua ação seja mais cautelosa e, por favor, zele por nossas vidas, por nossa segurança.”
Na Penitenciária Regional, onde Fito estava, havia entrada e saída de policiais e militares em caminhões no final de semana. Em um pátio, os detentos haviam escrito com pedras “papa Fito” (papai Fito). Em uma quadra esportiva do mesmo complexo, havia a frase “com Fito semeamos paz” (com Fito plantamos a paz).
Nos centros penitenciários do Equador, há 31.321 detentos, de acordo com um censo de 2022. Com o objetivo de separar os detentos mais perigosos, o presidente Noboa anunciou que construirá duas prisões de segurança máxima nas províncias de Pastaza e Santa Elena.
A última vez que Fito foi visto foi em setembro passado, quando foi temporariamente transferido para outra prisão de segurança máxima em Guayaquil após o assassinato de Fernando Villavicencio. Milhares de agentes o vigiavam, em uma das maiores operações militares e policiais realizadas lá pelo ex-presidente Guillermo Lasso (2021-2023).
O criminoso, que estudou na prisão para obter o título de advogado, desfrutava de privilégios. Mesmo dentro da prisão, ele protagonizou o videoclipe de um narcocorrido (subgênero musical mexicano que ganha esse nome quando adaptado falar falar sobre questões ligadas ao narcotráfico, muitas vezes glorificando-as) em sua homenagem, cantado por sua filha.
O vídeo de “El Corrido del León”, do grupo identificado como Mariachi Bravo, mostrava o chefe dos Choneros com um chapéu e lendo um livro no pavilhão da prisão. De acordo com especialistas, os Choneros têm um contingente de pelo menos 8.000 homens.
A guerra pelo poder entre organizações do narcotráfico deixou mais de 460 presos mortos em massacres desde 2021. Os homicídios nas ruas aumentaram quase 800% entre 2018 e 2023, passando de 6 para 46 por cada 100 mil habitantes.