O líder da Venezuela, Nicolás Maduro, começou nesta sexta-feira (8) a sua primeira visita à China em cinco anos com o objetivo de renovar laços com Pequim no momento em que as relações do país asiático com o Ocidente se deterioram e Caracas tenta superar sua crise econômica às vésperas das eleições de 2024.
A estadia, que se estenderá até a próxima quinta-feira (14), foi anunciada na véspera, quando a número dois do regime venezuelano, Delcy Rodríguez, já estava no país asiático. As autoridades chinesas retribuíram a aproximação e indicaram interesse em fortalecer vínculos com a Venezuela, que, após ensaiar uma abertura, voltou a se isolar internacionalmente.
“China e Venezuela são sócios estratégicos integrais um para o outro. Os vínculos sino-venezuelanos resistiram aos vaivéns da situação internacional e sempre permaneceram sólidos como uma rocha” afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pequim, Hua Chunying, no X, antigo Twitter.
De fato, os laços entre os dois países são estreitos: a China, maior importadora de petróleo do mundo, é o principal credor da Venezuela e um cliente-chave do mercado de energia do país sul-americano, que possui as maiores reservas de petróleo bruto do mundo.
Devido às sanções aplicadas ao regime de Maduro, a maioria das cargas da Venezuela é transferida por meio de países terceiros, como a Malásia. A China, por exemplo, não registrou oficialmente importações diretas de petróleo venezuelano no ano passado ou neste ano, mas autoridades de Caracas disseram ter o desejo de cortar intermediários.
Petróleo, pagamento da dívida e novos financiamentos provavelmente serão os principais temas das mesas de negociação dessa visita —a Venezuela deve mais de US$ 10 bilhões à China. Parte desse empréstimo foi concedido por meio de linhas de crédito e acordos de petróleo.
A queda nos preços da commodity e a redução da produção venezuelana, porém, fizeram com que o regime sul-americano fosse obrigado a pedir períodos de carência em 2016 e em 2020, de acordo com relatos dados à agência de notícias Reuters.
Agora, os funcionários de Maduro tentam negociar novamente a dívida e conseguir uma nova linha de crédito para projetos de infraestrutura que seriam construídos por empresas chinesas na Venezuela, segundo fontes com conhecimento das negociações afirmaram à Reuters.
Tentativas anteriores fracassaram devido à capacidade de pagamento da Venezuela.
Desde que os Estados Unidos impuseram sanções ao petróleo da Venezuela em 2019, o pagamento da dívida de Caracas à China caiu. A situação agora pode ser diferente, já que o governo de Joe Biden, presidente dos EUA, amenizou algumas das sanções endurecidas pelo seu antecessor, Donald Trump.
Após oito anos seguidos de recessão, a Venezuela voltou a registrar crescimento em 2022. A recuperação, no entanto, está ameaçada por um processo de desaceleração do fim do ano passado. Maduro insiste que o PIB vai crescer mais de 5% em 2023, rebatendo as projeções de vários analistas.
Os dois países “cooperam em assuntos internacionais e regionais, apoiam firmemente um ao outro e se opõem conjuntamente à hegemonia e ao unilateralismo”, disse o número dois do regime chinês, Han Zheng, à delegação venezuelana, segundo um relatório desta sexta da agência estatal chinesa CCTV.
A decisão de Pequim de receber Maduro coincide com uma cúpula do G20 em Nova Déli neste fim de semana, da qual o líder chinês, Xi Jinping, não participará.