Menos de dois meses depois de bater a cabeça em uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou ao hospital, na noite de segunda-feira (9). Com um quadro mais grave do que o registrado no dia do acidente doméstico, em 19 de outubro, ele precisou ser levado às pressas para São Paulo, onde passou por cirurgia de emergência, na terça (10), em que foi feita uma perfuração no crânio para acessar o cérebro e drenar um sangramento.
Lula passou por uma trepanação (técnica de perfuração do crânio) para drenar o hematoma. Ele não teve comprometimento cerebral. Segundo a equipe médica, o presidente está consciente, internado para observação na UTI do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo. A expectativa é de que ele vá para o quarto até sexta, três dias após a cirurgia. Ele deve permanecer com o dreno de 48h a 72h depois do procedimento. Médico particular de Lula, Roberto Kalil Filho garantiu que ele não terá sequelas e que as perspectivas de recuperação são boas.
— Lula não teve nenhuma lesão cerebral — disse Roberto Kalil, em entrevista coletiva na terça-feira (10).
À colunista Bela Megale, do jornal O Globo, Kalil afirmou também que não há necessidade de o presidente se licenciar:
— (Lula) Não saiu da Presidência e não sairá. Ele deve voltar a Brasília na semana que vem.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin, assumiu parte das agendas previstas. No Palácio do Planalto, o plano é que Lula siga formalmente no cargo enquanto se recupera da cirurgia.
Lula teve hemorragia intracraniana
A cirurgia repercutiu não só no Brasil, mas também nos principais jornais ao redor do mundo. O presidente apresentou uma hemorragia intracraniana, entre as camadas do meio e mais externa do cérebro, no lado esquerdo da cabeça. Segundo os médicos, esse tipo de sangramento tardio é comum em caso de contusão cerebral — quando caiu no banheiro, em 19 de outubro, Lula fez um traumatismo craniano.
— No primeiro sangramento (em outubro), o corpo dele tinha absorvido. Na fase de absorção, às vezes fica mais liquefeito o sangramento. Ele acaba absorvendo mais água e pode ter um sangramento tardio. Isso pode acontecer meses depois. Ele já tinha absorvido o primeiro sangramento e agora acabou tendo um segundo. Ele estava liberado pela equipe médica lá em outubro, com a obrigação de realizar exames de rotina — explicou o neurologista Rogerio Tuma.
Desde o acidente doméstico, Lula passou por uma série de exames para verificar a evolução da contusão, que constataram melhora do quadro. Recentemente, no entanto, ele passou a se queixar de dores de cabeça (veja mais abaixo).
Cronologia
Dores de cabeça
Na manhã de segunda-feira (9), Lula não se sentia bem. Segundo ministros que estiveram numa reunião junto ao presidente, ele estava cansado e indisposto. Fazia alguns dias que se queixava de dores de cabeça, mas estava reticente sobre buscar atendimento e subestimou a gravidade do sintoma, pois acreditava ser reflexo de um estado gripal e já tinha exames agendados para a próxima semana.
Alerta de amigo
Desde que Lula sofreu o traumatismo craniano, com a queda no banheiro do Palácio do Planalto em 19 de outubro, a recomendação dos médicos era de que ele buscasse atendimento caso sentisse dor de cabeça. Nos últimos dias, as queixas do presidente acenderam um alerta num amigo próximo, o empresário e dono da Amil José Seripieri Filho, que teria inclusive achado o presidente “estranho” numa conversa. Foi ele quem comunicou a equipe de Lula sobre o sintoma.
Decisão de fazer exames
Na tarde de segunda-feira (9), num encontro com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Lula ainda sentia dor de cabeça. De acordo com a colunista do jornal O Globo Renata Agostini, ele verbalizou que procuraria ajuda médica. “Pessoal, estou com dor de cabeça. Vou ter de sair para fazer exames”, disse, segundo contou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que os acompanhava. Lula deixou a sala por volta das 17h50. De acordo com o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), até anunciar que se ausentaria, o presidente parecia cansado e estava com o semblante mais fechado, mas não havia indicado estar com algum desconforto. Pacheco relatou que Lula estava “abatido” durante a reunião, mas se despediu “com um sorriso no rosto”.
Ressonância magnética
O primeiro atendimento foi no Sírio-Libanês de Brasília, onde Lula chegou às 18h de segunda (9). Lá, ele passou por uma ressonância magnética, que “mostrou hemorragia intracraniana, decorrente do acidente domiciliar sofrido em 19/10”, afirmou um boletim do hospital. A decisão de transferi-lo para a unidade de São Paulo foi dos médicos, sobretudo por causa da infraestrutura. O fato de manter toda a equipe (formada por uma dezena de profissionais de saúde, de diferentes especialidades) perto do presidente durante e depois da operação também pesou. Ao receber dos médicos o diagnóstico de hemorragia intracraniana, Lula deixou evidente sua surpresa e chateação, segundo presentes naquele momento em relato à colunista de O Globo Bela Megale.
Transferência
A viagem de Brasília para São Paulo ocorreu por volta das 22h30 de segunda-feira (9), e Lula estava acompanhado da primeira-dama, Janja. Segundo o colunista Lauro Jardim, do Globo, assessores próximos definiram como uma “operação de guerra” essa transferência, por causa da urgência com que tudo precisou ser feito. A infectologista Ana Helena Germoglio, que também acompanhou o presidente, afirmou que ele permaneceu lúcido durante toda a viagem.
A cirurgia
Já em São Paulo, por volta de 1h30 da madrugada de terça-feira (10), Lula foi operado. “A cirurgia durou em torno de duas horas. O hematoma foi removido, o cérebro está descomprimido e ele está com as funções neurológicas preservadas”, explicou o neurocirurgião Marcos Stavale.
Internação na UTI
Segundo a equipe médica, o presidente está consciente, se alimentando e conversando normalmente após a cirurgia, sem complicações. Ele permanecerá na UTI por pelo menos três dias, uma medida de precaução pelo caso. Posteriormente, a expectativa é de que siga internado em um quarto. O retorno a Brasília só deve acontecer na semana que vem. A equipe também assegura que Lula não terá sequelas. Nesta terça-feira (10), no início da tarde, Janja fez sua primeira manifestação pública sobre o estado de saúde do marido. Ela agradeceu as orações e as boas energias, disse que a cirurgia foi bem-sucedida e escreveu ainda, mencionando a virada de segunda para terça-feira: “A angústia dessa noite deu espaço para a tranquilidade e para a certeza de que, com a dedicação da equipe médica e com a fé e o amor do povo, em breve ele estará novamente de volta ao trabalho. Por isso, fiquem tranquilos! Ele, que ama cuidar das pessoas, está recebendo todo o cuidado necessário para uma rápida recuperação. Já, já ele estará de volta”.