O número de mortes após as inundações que devastaram o leste da Líbia deve aumentar “significativamente” e ultrapassar a marca de 10 mil, disseram autoridades. Ao menos 5.300 óbitos haviam sido confirmados até esta quarta (13), numa das piores tragédias da história da nação africana.
“O mar despeja constantemente dezenas de corpos”, disse à agência Reuters Hichem Abu Chkiouat, ministro da Aviação Civil e membro do comitê de emergência formado para responder à crise. “O número [de mortes] poderá duplicar porque milhares de pessoas ainda estão desaparecidas.”
A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho descrevem um cenário de caos na nação africana e apontam cerca de 10 mil desaparecidos na tragédia. Em relatório divulgado nesta quarta, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) atualizou o número de pessoas desabrigadas para 30 mil.
Bairros da cidade de Derna, na costa leste, ficaram devastados após o rompimento de duas barragens e a formação de uma enxurrada na noite de domingo (11), que arrastou casas, veículos e pontes em direção ao mar. A enchente surpreendeu os moradores dias após a passagem da tempestade tropical Daniel no fim de semana. Prédios inteiros foram destruídos com famílias que estavam dormindo em seu interior.
Em Derna, a cidade mais atingida, dezenas de corpos enrolados em lençóis foram colocados no chão de hospitais para que os moradores tentassem identificá-los. Mustafa Salem, que vivia perto de um rio, disse que ninguém da sua família sobreviveu. “Ninguém estava pronto. Perdemos 30 pessoas”, afirmou.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram uma torrente de água e de lama avançando sobre a cidade em poucos minutos após o rompimento das barragens. Fotografias de satélite da cidade, tiradas antes e depois do desastre, mostram que casas desapareceram, e edifícios ficaram em ruínas.
O ministro Chkiouat voltou a pedir ajuda à comunidade internacional, enfatizando que o país não está preparado para lidar com uma crise do tipo. A tragédia expôs a fragilidade de infraestrutura e a fratura política do país, que é politicamente dividido entre governos a leste e a oeste —este, reconhecido pela comunidade internacional, opera na capital— como consequência de revoltas e conflitos desde 2011.
A cidade de Derna tem cerca de 125 mil habitantes e ficou desde o início do desastre sem acesso à internet e eletricidade, o que tem dificultado a comunicação e o trabalho de equipes de resgate. Estradas bloqueadas por deslizamentos e inundações também são obstáculos ao acesso a áreas atingidas.