A vice-presidente Kamala Harris anunciou nesta sexta-feira (16) um conjunto de propostas econômicas para os primeiros cem dias de seu governo para reduzir o custo de vida, se eleita. Em um comício na Carolina do Norte, um estado crucial no pleito deste ano, ela prometeu reduzir preços de alimentos, habitação e remédios, além de cortar impostos.
As ações miram o eleitorado de classe média e baixa, segmento que mais sofreu com a disparada de preços nos EUA durante o governo Joe Biden —um aumento de 20%, em média. A insatisfação com os rumos da economia é uma das principais queixas da população, e motor da impopularidade do atual presidente.
“Todos sabemos que os preços subiram durante a pandemia quando as cadeias produtivas foram interrompidas e falharam. Mas nossas cadeias produtivas se recuperaram, e os preços ainda estão muito altos”, afirmou.
A estratégia da campanha é culpar grandes empresas pela inflação, tirando a responsabilidade do atual governo, do qual Kamala é a número 2 no comando. O discurso de inspiração populista tem ressonância entre o eleitorado, e a democrata aproveitou sua carreira como procuradora para dizer que vai “atrás dos caras maus”.
Em resposta à inflação, o Federal Reserve, o banco central americano, elevou a taxa básica de juros, encarecendo a aquisição de imóveis. A crise no setor impacta especialmente jovens —outro eleitorado essencial—, que passaram a ter mais dificuldade para comprar a primeira casa.
“Até o final do meu primeiro mandato, acabaremos com o déficit habitacional nos Estados Unidos construindo 3 milhões de novas casas para compra e locação que sejam acessíveis para a classe média”, disse a candidata.
O plano prevê uma parceria com o setor privado. As novas unidades serão construídas nos quatro anos de mandato, disse. Além disso, a democrata disse que vai oferecer uma ajuda de até US$ 25 mil para entrada da compra do primeiro imóvel para famílias que se qualifiquem por critério de renda.
Kamala também prometeu oferecer um crédito tributário de até US$ 6.000 por criança ao longo de seu primeiro ano de vida para famílias de classe média e baixa, e propor ao Congresso uma legislação para banir aumentos abusivos de preços, quando uma empresa aproveita uma disparada de demanda repentina.
A democrata, no entanto, não explicou como pretende aumentar as receitas para arcar os custos dessas medidas, embora tenha dito que vai implementá-las sem aumentar o déficit. Kamala acusou o adversário, Donald Trump, de “explodir a dívida pública” ao implementar cortes de impostos para empresas.
“Donald Trump luta por bilionários e grandes corporações. Eu vou lutar por americanos trabalhadores e de classe média”, afirmou. Ela disse que ele não tem planos para expandir o acesso a moradia e atendimento de saúde.
“Mas nós sabemos o seu plano. É o Projeto 2025”, disse, em referência à plataforma impopular capitaneada pela Fundação Heritage, um instituto conservador, do qual a campanha republicana vem tentando se distanciar.
Kamala prometeu falar de ações para a “economia da oportunidade” futuramente.
Na véspera, Trump chamou Kamala de comunista e comparou o seu plano para a economia com o do ditador venezuelano Nicolás Maduro. Ele disse ainda que a proibição de aumento de preços abusivos é algo que se veria na União Soviética e que vai provocar racionamento e fome.
Veja as propostas de Kamala:
Habitação
- Construção de 3 milhões de novas unidades habitacionais, em parceria com o setor privado, para compra e locação. Eliminação de barreiras que impedem a construção de novas habitações, inclusive a nível estadual e municipal
- Incentivo tributário para empresas construírem casas de entrada (direcionadas para pessoas que compram um imóvel pela primeira vez)
- Expansão do incentivo tributário para empresas que constroem habitações para locação
- Criação de um novo fundo federal, de US$ 40 bilhões, para incentivar construção inovadora
- Reduzir a burocracia
- Impedir que investidores comprem e reprecifiquem habitações no atacado por meio de uma proposta de lei ao congresso chamada “Pare o Investimento Predatório” que retira incentivos tributários
- Envio ao Congresso de uma proposta de lei para combater empresas de dados usadas por proprietários corporativos para definição de preço de alugueis em uma espécie de cartel
- Oferecer uma assistência de até US$ 25 mil na entrada para compra de um primeiro imóvel por famílias que pagaram seus alugueis sem atraso por dois anos, com prioridade para aqueles vindos de famílias que nunca foram proprietárias
Redução de preços de remédios e alívio para dívidas relacionadas a procedimentos de saúde
- Limitar o preço da insulina a US$ 35 por mês e gastos com remédios sob prescrição fora da cobertura de planos de saúde para todos, não apenas idosos, como funciona hoje
- Acelerar as negociações no âmbito do Medicare para reduzir o preço de remédios sob prescrição
- Incentivar a competição e cobrar transparência da indústria de saúde
- Trabalhar com os estados para cancelar a dívida com procedimentos médicos
Redução custos de compras de supermercado
- Trabalhar com o Congresso para avançar a primeira proibição federal a aumentos abusivos de preços de alimentos
- Estabelecer regas para que grandes empresas não possam explorar injustamente disparada de demanda por alimentos
- Garantir que a Comissão de Comércio Federal e procuradores estaduais tenham autoridade para investigar e punir quem quebrar as regras
- Combater fusões e aquisições injustas de empresas que possam resultar em aumento de preços de alimentos e prejudicar a competição de mercado
Cortar impostos para a classe média
- Expandir o crédito tributário por criança para oferecer uma redução de até US$ 6.000 para famílias com recém-nascidos durante o primeiro ano de vida para famílias de classe média e baixa
- Garantir que ninguém com renda inferior a US$ 400 mil por ano pague mais em impostos
- Oferecer crédito tributário de até US$ 3.600 por criança para famílias de classe média e trabalhadoras
- Cortar os impostos em até US$ 1.500 para indivíduos e casais sem filhos trabalhando em empregos de baixos salários
- Economia de até US$ 700 na contratação de planos de saúde