Kamala Harris se consolidou nesta segunda (22) como a substituta de Joe Biden na disputa pela Casa Branca contra Donald Trump. Nenhum outro nome relevante do Partido Democrata veio a público desafiar sua candidatura, endossada pelo próprio presidente e pela maior parte da legenda.
O clima de triunfo era visível em seu primeiro discurso de campanha, feito no início da noite desta segunda no local onde até o último domingo (21) era a sede da campanha Biden-Harris. “O bastão está nas nossas mãos”, disse Kamala, que foi introduzida ao som de “Freedom”, de Beyoncé.
Joe Biden, isolado em Rehoboth Beach em razão da Covid-19, participou por telefone. O presidente agradeceu a equipe e disse que continuará “totalmente engajado” na campanha. “Eu estou de olho em você, menina. Eu amo você”, disse ele a Kamala.
Todos os 23 governadores democratas, incluindo cotados para a vaga de Biden como J.B. Pritzker (Illinois) e Gretchen Whitmer (Michigan), declararam apoio a Kamala. No Congresso, 181 dos 212 deputados e 41 dos 47 senadores fizeram o mesmo, segundo monitoramento feito pelo New York Times.
Um dos nomes mais importantes a vir a público apoiá-la nesta segunda foi a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi. A lendária líder democrata operou nos bastidores para que Biden desistisse, mas havia permanecido em silêncio no domingo sobre quem endossaria.
“Tenho plena confiança de que ela nos levará à vitória em novembro”, afirmou em nota divulgada nesta segunda.
Tão importante quanto o apoio do partido é o de doadores: foram US$ 81 milhões nas 24 horas após Kamala lançar-se candidata –um recorde, segundo a campanha. A equipe diz que contribuíram com esse montante 888 mil pequenos doadores, sendo que 60% deles fizeram uma doação pela primeira vez neste ano.
A esse montante se somam os US$ 150 milhões levantados de grandes doadores pelo comitê de arrecadação (conhecido como PAC, na sigla em inglês) Future Forward, de acordo com o site Politico.
A demonstração de união dos democratas sucede semanas de conflitos internos em torno da candidatura de Biden, em que a imagem dividida do partido contrastou negativamente com o domínio total de Donald Trump sobre os republicanos na convenção nacional do partido, realizada na semana passada.
Conforme Kamala se firma como a candidata democrata, a discussão se volta para quem será o vice na chapa do partido. Seguindo a estratégia clássica de alguém com perfil complementar, as apostas são um homem branco –preferencialmente de um estado-pêndulo.
Os principais cotados para vice, por ora, são os governadores Andy Beshear (Kentucky), Roy Cooper (Carolina do Norte), Josh Shapiro (Pensilvânia) e Pritzker. Outro nome citado é o senador Mark Kelly (Arizona), cujas credenciais de militar e astronauta reluzem aos olhos democratas.
“Eu quero que o povo americano saiba o que é uma pessoa do Kentucky e como ela se parece, porque deixa eu eu te dizer, J.D. Vance não é daqui”, afirmou Beshear em entrevista à MSNBC nesta segunda, em um ataque ao vice de Trump nascido em seu estado.
Uma pessoa que já pode ser riscada da lista é Whitmer. A governadora do Michigan afirmou que não pretende deixar seu estado neste ano, e vai assumir o papel de codiretora da campanha de Kamala (o mesmo cargo que ocupava sob Biden).
“Se eles fizerem pesquisas e descobrirem que precisam de um judeu careca e gay de 49 anos de Boulder, Colorado, eles têm o meu telefone”, brincou o governador do estado, Jared Polis, em entrevista à CNN, ao ser questionado sobre seu interesse no posto –um bom humor que havia se tornado raro entre democratas nas últimas semanas.
O clima mais leve é visível entre os integrantes do partido, aliviados com o que parece ser uma nova oportunidade para derrotar Donald Trump depois de as esperanças de conseguir o feito minguarem sob Biden.
Kamala aproveitou esta segunda para marcar bem sua diferença contra o adversário, caso ela se confirme como a candidata do partido, em dois temas principais: aborto e ficha criminal.
“Ao longo da minha carreira, lidei com criminosos de todos os tipos”, disse ela, em referência à sua atuação como procuradora na Califórnia, despertando risos no escritório.
“Predadores que abusaram de mulheres, fraudadores que roubaram consumidores, trapaceiros que quebraram as regras para seu próprio benefício. Então me ouçam quando eu digo: eu conheço o tipo de Donald Trump”, afirmou, sob aplausos.
“Eu sei que tem sido uma montanha-russa”, disse. “Tenho fé completa de que esse time é a razão pela qual vamos vencer em novembro”, completou. Kamala afirmou que o comando da campanha continuará nas mãos de Julie Chavez Rodriguez e Jen O’Malley Dillon.
Nesta terça (22), a vice fará seu primeiro comício de campanha como candidata em Milwaukee, no estado-pêndulo de Wisconsin –a mesma cidade que recebeu a convenção republicana na semana passada.
Kamala é filha de um professor jamaicano e de uma pesquisadora de câncer indiana que se conheceram durante um protesto por direitos civis na Califórnia, nos anos 1960 —ambos faziam doutorado na Universidade de Berkeley.
O nome da vice-presidente, em hindi, significa flor de lótus, como ela afirma em seu livro de memórias “The Truths We Hold – An American Journey” (2019). A pronúncia correta é “Kâmala”, com a sílaba tônica no “Ka”, e não “Kamála”.