Os cinco policiais militares que são acusados pela morte do servente de pedreiro Jonas Seixas estão sendo julgados, nesta quarta-feira, 13, no Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, em Maceió. Jonas Seixas da Silva desapareceu após uma abordagem da Polícia Militar, no dia 9 de outubro de 2020, na Grota do Cigano, no Jacintinho, e desde então nunca foi encontrado. A assessoria de comunicação do Ministério Público do Estado de Alagoas, que está no tribunal acompanhando o caso, divulgou que um dos réus, identificado como soldado Felipe, afirmou ao júri que os policiais teriam colocado Jonas na viatura para simularem uma prisão. O motivo seria para a vítima não ficar na mira de traficantes na Grota do Cigano.
Veja abaixo a reprodução de trecho do depoimento, de acordo com o MP-AL:
“Neste momento, o soldado Felipe está depondo. Ele nega autoria de assassinato e afirma que saíram para um patrulhamento de tráfico de drogas na Grota do Cigano, em um beco onde estaria sendo comercializada a droga. Que a guarnição voltou para a viatura com a vítima, afirmando que ele iria colaborar com a polícia passando informações. O soldado Felipe era o motorista e aguardou o retorno da guarnição na viatura. Ele reafirma que Jonas não foi detido, que foi colocado na viatura para simular prisão e não ficar na mira de outros traficantes, já que ele iria colaborar com a PM e apontar os líderes do tráfico”.
Como consta no inquérito da investigação, a esposa de Jonas o procurou na Central de Flagrantes, já que os policiais afirmaram que o levariam para a delegacia, no entanto, as autoridades concluíram que ele nunca foi apresentado na Central. A família ainda peregrinou pelo Hospital Geral do Estado (HGE), pelo Instituto Médico Legal (IML), por Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e até pelo presídio, mas nunca obteve informações sobre o paradeiro de Jonas.
O caso teve repercussão em Alagoas, onde a família chegou a realizar manifestações em busca de Justiça. Segundo o advogado Arthur Lira, que representa a família por meio do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca), a expectativa é que os policiais sejam condenados pelos crimes de sequestro qualificado, tortura, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. “Toda instrução processual realizada aponta para a condenação. Tivemos diversas audiências, ouvimos testemunhas de acusação, defesa, interrogatório dos réus, mas, sobretudo, temos as provas técnicas produzidas”, afirma Arthur Lira.
“O primeiro a depor é o sargento conhecido como Pituba. Ele garante ter deixado a vítima nas proximidades do viaduto que dá acesso a Jacarecica. Que teriam deixado a vítima nesse local porque ela temia ser liberada dentro da grota e tido como informante da polícia. O promotor Vilas Boas indagou sobre possível invasão dos policiais à casa da vítima e ele negou. Sobre as questões de todos os rádios terem descarregado ao mesmo tempo, ele explicou que ocorreu no final da tarde e que foram levados para a troca de baterias na unidade. Segundo o policial , as duas guarnições agiram juntas na operação de abordagem, mas teriam se separado depois. Insistindo na pergunta se eles teriam entrado por trás do Motel CQ sabe, o policial confirmou. Sobre fazer o que naquele local, disse que faziam rondas de praxe”, reproduziu a assessoria de comunicação do MP-AL.
A previsão para o término do julgamento é para o final da noite desta quarta-feira, 13, podendo se estender até a quinta-feira, 14.
Veja abaixo outros trechos reproduzidos pela assessoria de comunicação do MP-AL sobre os depoimentos dos policiais:
“O Jonas Seixas já tinha sido preso por tráfico e, segundo os policiais, era homem de liderança do PCC na Grota do Cigano. Ele assegurou o que o sargento Pituba disse. Que passaram por trás do motel em patrulhamento normal, visto que o local é de constantes assaltos. O promotor perguntou se naquela tarde o policial se dirigiu ao antigo BPE para a troca das baterias dos radiocomunicadores, e ele disse que sim. Se ele lembrava se o trânsito estava congestionado, e ele disse não lembrar. O referido soldado dirigia a viatura da Tática II. Enquanto o sargento Pituba estava na Tática I. O promotor Vilas Boas reportou as perguntas sobre terem entrado numa mata atrás do motel, e ele disse que não se trata de local de mata, mas de um conjunto residencial”.
“Sobre os HTs (rádios) desligados, o soldado disse que existem áreas em que não há sinal e que a troca das baterias se deu porque já estariam prestes a descarregar e precisariam garantir carga para continuar os patrulhamentos”.