O Ministério da Defesa do Japão solicitou nesta quinta-feira (31) o valor de 7,7 trilhões de ienes, equivalente a cerca de R$ 262 bilhões para o ano fiscal de 2024. O pedido dá sequência ao plano do premiê Fumio Kishida de aumentar os gastos bélicos em 43 trilhões de ienes ao longo de cinco anos.
O plano, anunciado no ano passado, busca dobrar os investimentos com defesa para 2% do Produto Interno Bruto até 2027 —a mesma meta dos países-membros da Otan, a aliança militar ocidental. Na prática, o plano prepara os japoneses para um conflito contínuo e inclui a compra de mísseis capazes de atingir a China.
O pedido ocorre em um momento de relações conturbadas com os países vizinhos. Os chineses têm se mostrado cada vez mais assertivos, especialmente em relação a Taiwan. Já a Coreia do Norte, beligerante e bem armada, é imprevisível.
Na semana passada, o Japão começou a despejar no mar água radioativa tratada da usina nuclear de Fukushima, atingida por um tsunami em 2011. A China condenou a medida, proibindo as importações japonesas de frutos do mar.
O Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou uma nota em que acusa o Japão de infringir os direitos das pessoas à saúde, ao desenvolvimento e a um ambiente saudável. “Ao despejar a água no oceano, o Japão espalha riscos para o resto do mundo e deixa uma ferida aberta nas futuras gerações”, diz o texto.
O pedido para o ano fiscal de 2024, enviado ao Ministério das Finanças, acrescenta quase um trilhão de ienes ao orçamento do ano anterior, de 6,8 trilhões de ienes, um aumento de cerca de 13%. Se aprovado, o orçamento terá aumentado os gastos em cerca de um trilhão de ienes em relação ao ano anterior por dois anos consecutivos, caso sem precedentes.
O Ministério da Defesa planeja reservar mais de 900 bilhões de ienes para munições e armas, incluindo novos mísseis de defesa aérea baseados em navios. Cerca de 600 bilhões de ienes serão usados para fortalecer as capacidades logísticas para implantar armas e recursos nas cadeias de ilhas do sudoeste durante uma emergência.
O orçamento inclui financiamento para três novos navios de desembarque, no valor total de 17 bilhões de ienes, mais de 300 bilhões de ienes para 17 helicópteros de transporte e uma nova equipe de transporte especializada para melhorar as capacidades de implantação, disse o Ministério da Defesa em seu pedido.
O Japão também destinará 75 bilhões de ienes para o desenvolvimento conjunto de mísseis interceptadores com os Estados Unidos para combater ogivas hipersônicas e 64 bilhões de ienes para a construção de caças de próxima geração com o Reino Unido e a Itália.
O orçamento bélico, que antes seria impensável no Japão tradicionalmente pacifista, posiciona o país na terceira posição do ranking de maiores gastos militares, atrás apenas de Estados Unidos e China.
A agressão japonesa antes e durante a Segunda Guerra Mundial ainda é motivo de tensão nas relações com alguns países da Ásia. O país, no entanto, argumenta que todo o investimento previsto é parte de uma estratégia de autodefesa e garante que sua crescente força militar não será usada para ameaçar os outros.