Em um período de 30 horas, militares israelenses e profissionais de saúde transformaram um estacionamento para 1.400 veículos no maior hospital subterrâneo do mundo. Localizado em Haifa, no norte de Israel, o Sammy Ofer está pronto para receber pacientes desde quarta-feira (11).
O espaço ocupa 60 mil m², divididos em três andares, no subsolo do Hospital Rambam Health Care Campus, referência no atendimento de emergência no país. Há espaço para 2.000 leitos e 8.000 pessoas, entre profissionais de saúde, pacientes e familiares.
O Sammy Ofer é à prova de ataques com armas químicas e biológicas, contra foguetes e mísseis. A decisão de construí-lo foi tomada em 2006, após Haifa sofrer ataques do grupo radical libanês Hizbullah. Ao menos oito pessoas morreram e centenas ficaram feridas na ocasião. Agora, o Ministério da Saúde e o Rambam decidiram, por precaução, ativar o hospital-bunker novamente.
“Na manhã de sábado [quando começou o ataque do Hamas], 1.200 pessoas foram mortas, incluindo bebês e crianças; 3.000 feridas. Embora a guerra esteja no sul de Israel, a tensão aumentou. Então começamos a desativar o estacionamento e a preparar o hospital na segunda, com a ajuda das Forças Armadas de Israel”, diz o diretor do Rambam, Michael Halberthal.
Outra questão motivou a ativação da unidade: as movimentações do Hizbullah na fronteira com o Líbano, no norte do país, onde fica o hospital. Para o diretor, é esse conflito que determinará se os pacientes serão levados à área subterrânea.
Na terça (10), as Forças Armadas entraram em alerta após 15 foguetes do grupo chegarem à Galileia, no norte de Israel.
“Temos dois fronts: no sul e no norte. Mas os foguetes do Hamas são mais simples. O Hizbullah tem foguetes poderosos. A decisão de quando vamos levar os pacientes para o subsolo depende de como o conflito se desenvolverá no norte, e será feita em conjunto com as Forças Armadas e com o Ministério da Saúde”, diz Halberthal.
Diante de ameaças de ataques aéreos, a previsão é de que a parte superior do Rambam seja esvaziada e de que todos os pacientes levados para o subsolo em oito horas. A unidade tem autossuficiência de 48 horas de oxigênio, energia, água e gás e foi projetada para aguentar ataques de foguetes a cada quatro minutos por até 35 dias.
As obras foram concluídas há cerca de 10 anos. Desde a inauguração, porém, o hospital só foi usado uma vez, durante a pandemia de Covid-19. Entre 5.000 e 6.000 pacientes foram tratados ali.
Para os moradores de Israel, a notícia da reabertura da ala subterrânea foi recebida com um misto de apreensão e confiança. “Apreensão porque significa que há suspeita de que ataques podem acontecer em breve, e confiança porque aqui há um grande nível de confiabilidade nas decisões do Exército”, diz o brasileiro Gabriel Paciornik, morador do país há 26 anos.
A estrutura
O primeiro andar funciona como recepção e triagem. O segundo e o terceiro são destinados à internação. Filtros nas paredes protegem contra agentes químicos e biológicos. O concreto espesso da fortificação protege contra mísseis e bombas.
Em 2013, Halberthal, que era chefe da triagem do Rambam, disse à Folha que as paredes do prédio tremiam com os ataques em 2006. Agora, ele relembra o caso: “Nenhum hospital era fortificado e tínhamos 70 foguetes caindo ao nosso redor. Tivemos sorte na época. Agora, não dependemos mais da sorte, porque estamos protegidos”.
Em Israel, há outros três hospitais subterrâneos, um na capital Tel Aviv, um em Petah Tikva, distrito central, e outro em Jerusalém.