Os israelenses esperaram o dia todo na sexta-feira (24), em antecipação nervosa por uma boa notícia após sete semanas de luto coletivo e trauma.
Quando o primeiro grupo de 13 reféns israelenses finalmente cruzou as fronteiras da Faixa de Gaza para o Egito e depois para Israel, o sol já havia se posto e o crepúsculo se transformara em escuridão.
O céu estrelado da noite era como uma metáfora para uma nação dividida entre celebrar a libertação de pelo menos alguns de seus reféns e a apreensão pelo futuro, pela guerra e pelos mais de 200 outros reféns, incluindo crianças, avós e soldados, ainda em cativeiro em Gaza.
“Vamos recebê-los em silêncio, de cabeças baixas, em silêncio”, escreveu Nahum Barnea, um dos principais colunistas políticos israelenses, no jornal Yediot Ahronot, resumindo o clima nacional. “Suas sete semanas de cativeiro são uma ferida que precisa ser curada.”
Entre os israelenses libertados estavam três mães com seus quatro filhos, entre 2 e 9 anos de idade, além de seis mulheres com idades entre 70 e 80 anos —o primeiro grupo de um total de 50 que devem ser libertados nos próximos dias em um acordo que inclui uma pausa nos combates, a libertação de 150 prisioneiros palestinos e o aumento da entrega de combustível e ajuda para Gaza.
Foi um momento comovente para muitos. No ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, agressores armados atravessaram a fronteira de Gaza e mataram cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, segundo autoridades israelenses —tornando-se o dia mais mortal da história de Israel em 75 anos. Os agressores também levaram cerca de 240 pessoas como reféns para a Faixa de Gaza
“É permitido sentir alegria e também derramar uma lágrima. Isso é humano”, disse Yoni Asher, 37, em uma gravação de vídeo logo após se reunir com sua esposa, Doron Katz Asher, 34, e suas filhas, Raz, 4, e Aviv, 2. Katz foi sequestrada enquanto levava as filhas para visitar sua mãe em Nir Oz, um kibutz perto da fronteira de Gaza.
“Mas não estou comemorando e não vou comemorar até que todos os reféns sejam devolvidos”, disse Asher, acrescentando: “A partir de hoje, as famílias dos reféns são minha nova família.”
Muitos israelenses ficaram grudados nas telas da TV durante toda a tarde e noite, pegando os primeiros vislumbres daqueles que estavam sendo libertados e levados pelas ambulâncias da Cruz Vermelha que os transportavam pela fronteira de Gaza para o Egito, e depois assistindo aos seus primeiros passos quando emergiram do cativeiro para a liberdade. As autoridades israelenses só confirmaram suas identidades depois de libertados.
Surpreendida, a nação assistiu enquanto Hanna Katzir, 76, avó de seis netos do kibutz Nir Oz, que normalmente usa andador, recebia ajuda para sair de uma ambulância.
O Jihad Islâmico, um grupo armado palestino que participou do ataque de 7 de outubro, havia afirmado recentemente que Katzir morreu em cativeiro e disse que forneceria evidências, mas nunca o fez.
Até mesmo os parentes de Katzir ficaram surpresos ao saber que ela estava viva quando as autoridades israelenses os informaram na quinta-feira à noite que ela estava na lista para ser libertada na sexta-feira, de acordo com uma sobrinha, Dalit Katzenellenbogen.
Ecoando os sentimentos mistos de muitos, Katzenellenbogen disse logo após a libertação de sua tia que sentia “alegria pelo retorno de Hanna do cativeiro, mas também preocupação com sua saúde física e mental”.
Assim como muitos dos reféns, Katzir, filha de sobreviventes do Holocausto, está voltando para uma vida muito diferente. Seu marido, Rami Katzir, foi morto no ataque a Nir Oz. Seu filho, Elad, 47, também foi sequestrado e permanece em Gaza. E, como todos os moradores das comunidades devastadas ao longo da fronteira, Katzir não terá uma casa para voltar no futuro previsível.
Doze dos 13 reféns israelenses libertados na sexta-feira haviam sido sequestrados de Nir Oz. O 13º era um dos cinco levados de Nirim, outro kibutz ao longo da fronteira de Gaza.
Nir Oz foi uma das comunidades mais atingidas. Cerca de um quarto de seus cerca de 400 habitantes foram mortos ou sequestrados.
Fundado pelos pioneiros do sionismo trabalhista socialista em 1955, sete anos após o estabelecimento do Estado de Israel, os campos de trigo e batata de Nir Oz se estendem até a cerca de segurança que Israel construiu ao redor da Faixa de Gaza e que foi violada em cerca de 30 locais em 7 de outubro. Além da cerca, erguem-se os prédios de apartamentos, torres de água e minaretes da vila palestina de Abasan.
Elad Katzir nasceu em Nir Oz. Agricultor responsável pelos sistemas de irrigação e membro da equipe de combate a incêndios e emergências do kibutz, ele sempre se sentiu desprotegido. Após uma ofensiva israelense de três semanas contra o Hamas em Gaza em resposta aos ataques de foguetes palestinos, que terminou em janeiro de 2009 com um frágil cessar-fogo, ele tinha uma sensação incômoda de algo perdido ou incompleto.
Dirigindo pelos campos verdejantes naquele mês com esta repórter, ele só parava o carro atrás de moitas de árvores ou arbustos como cobertura em caso de tiros de franco-atiradores. “Eu não sinto nenhuma vitória”, disse Katzir na época. “Ainda não me sinto seguro.”