O Conselho de Segurança das Nações Unidas adiou pela segunda vez a votação de uma resolução proposta pelo Brasil sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
O texto estava previsto inicialmente para ser votado na segunda (16), junto com uma resolução proposta pela Rússia, que foi rejeitada. A pedido dos demais membros, porém, a votação foi adiada para esta terça (17).
Agora, a reunião para analisar o documento foi postergada novamente, desta vez para a quarta-feira (18), às 10h do horário de Nova York (11h em Brasília), segundo o Itamaraty. Oficialmente, a justificativa é a necessidade de mais negociações do texto.
O adiamento acontece após uma escalada do conflito, com um ataque a um hospital na Cidade de Gaza que deixou centenas de mortos, de acordo com o Ministério da Saúde local.
Membros da pasta acusam Israel de direcionar o ataque aéreo ao hospital al-Ahli Arab, conhecido como Al-Ma’amadani. “O hospital abrigava centenas de doentes e feridos, além de pessoas forçadas a deixar suas casas devido a ataques israelenses”, disse o ministério.
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), por sua vez, atribuíram o ataque à facção Jihad Islâmico e disseram que hospitais não são seus alvos. “De acordo com informações de inteligência, o Jihad Islâmico é o responsável pelo disparo fracassado do foguete que atingiu o hospital”, diz uma nota.
No X, o antigo Twitter, a Defesa israelense ainda afirmou que “uma barragem de foguetes inimigos” estava em direção a Israel e passou pelas proximidades do hospital. A escalada de violência, que chegou ao 11º dia, já soma mais de 4.000 mortos, sendo cerca de 3.000 palestinos e 1.400 israelenses. A maioria é civil.
O texto brasileiro, organizado em 11 pontos, rejeita os ataques promovidos pelo Hamas desde 7 de outubro, classificados como terroristas, exige a imediata soltura dos reféns civis, e condena “toda violência e hostilidades contra civis e todos os atos de terrorismo”.
No preâmbulo, o texto expressa “profunda preocupação com a situação humanitária em Gaza e seus graves efeitos sobre a população civil, em grande parte composta por crianças”.
Em referência ao ultimato dado pelo governo de Binyamin Netanyahu no final de semana para a desocupação da área, o documento “insta à imediata revogação da ordem para que civis e pessoal da ONU evacuem todas as áreas ao norte de Wadi Gaza e se realoquem no sul de Gaza”. Não há menção a um direito de defesa de Israel, como pedido por Tel Aviv.
A resolução pede ainda que todas as partes cumpram o direito internacional, destacando as obrigações de respeito e proteção a civis e de trabalhadores humanitários, como funcionários da ONU e da Cruz Vermelha, no contexto de conflitos armados.
Nessa linha, o documento pede o estabelecimento de pausas humanitárias no conflito, para permitir o acesso de agências das Nações Unidas e seus parceiros, e incentiva a criação de corredores humanitários para a entrega de ajuda a civis.
Diante do alerta de uma catástrofe humanitária em Gaza após o cerco imposto por Israel, que impede a entrada de itens de necessidade básica como água, combustível, alimentos e remédios, o texto “insta fortemente a contínua, suficiente e sem impedimentos provisão de bens e serviços essenciais para civis”.
Há ainda um apelo para que todas as partes “exerçam o máximo de contenção”, assim como aqueles com influência sobre elas, para evitar uma escalada do conflito na região. Embora o texto não nomeie, a referência é aos EUA, principal aliado internacional de Israel que já vêm disponibilizando recursos militares a Tel Aviv, e ao Irã, um apoiador histórico do Hamas.
O Brasil, que ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança neste mês, foi incumbido de apresentar um texto na reunião da última sexta, após a Rússia circular uma proposta rechaçada pelos demais membros. Na segunda, o país de Vladimir Putin insistiu em apresentar uma resolução, a qual foi rejeitada por um placar de 5 votos a favor, 4 contrários e 6 abstenções.
A resolução russa não condenava explicitamente o Hamas por terrorismo, mas atos terroristas em geral, e pedia um cessar-fogo para proteger a população civil, bem como a abertura de corredores humanitários.
A representação palestina nas Nações Unidas apoiava a resolução, assim como diversos países árabes, entre eles Egito e Jordânia, além da Venezuela. Os EUA, a França, o Reino Unido e o Japão votaram contra o texto russo. O Brasil se absteve, assim como Suíça e Malta. A China votou a favor.
Embora não votem, representantes de Israel e Palestina também participaram da reunião. Cada um deles discursou aos membros do conselho.
O observador permanente da Palestina nas Nações Unidas, Riyad Mansour, fez um apelo para que os membros do órgão não justifiquem o assassinato de civis palestinos e exijam de Israel o cumprimento do direito internacional.
“Eu vim a esse conselho muitas vezes dizendo que o povo palestino não acredita mais que a ajuda está a caminho. Prove que ele está errado”, afirmou Mansour. “Nós imploramos: sejam guiados pelo direito internacional, sem exceção. Não envie o sinal de que as vidas palestinas não importam. Não ousem dizer que Israel não é responsável pelas bombas caindo sob suas cabeças. Não culpem a vítima.”
Falando em seguida, o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, cobrou do conselho que ele reconheça o Hamas como uma organização terrorista e atribua ao grupo a responsabilidade pelo que acontece em Gaza, além de reconhecer o direito de Tel Aviv de se defender.
O diplomata afirmou que este é um momento decisivo para o Conselho de Segurança firmar sua legitimidade, e a ONU, de modo mais amplo, o seu papel como bússola moral do mundo.
“Essa instituição foi fundada sobre as cinzas do Holocausto. Há uma semana, vimos outra tentativa de genocídio dos judeus. Todo membro do conselho deve entender que o Hamas é guiado por uma ideologia que não difere daquela dos nazistas”, afirmou.
Colaborou Clara Balbi