O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, prestou depoimento pela primeira vez nesta terça-feira (10) no processo em que responde por corrupção, o que provavelmente o obrigará a se dividir por semanas entre o tribunal e a condução da guerra contra seus vizinhos.
Netanyahu, 75, é o primeiro premiê em exercício de Israel a ser acusado de um crime. Há mais tempo no cargo na história do país, está na função quase consecutivamente desde 2009.
“Esperei oito anos por este momento para dizer a verdade”, Netanyahu disse aos três juízes que ouvem o caso. “Mas também sou primeiro-ministro”, afirmou. “Estou liderando o país em uma guerra de sete frentes. E acredito que as duas coisas possam ser feitas em paralelo.”
Ele sorriu ao entrar no Tribunal Distrital de Tel Aviv por volta das 10h do horário local (5h em Brasília). O julgamento foi transferido de Jerusalém por razões de segurança, não detalhadas, e realizado em uma sala de audiências subterrânea.
Antes de Netanyahu prestar depoimento, seu advogado Amit Hadad apresentou aos juízes o que a defesa considera ser falhas fundamentais na investigação. Os promotores, disse Hadad, “não estavam investigando um crime, estavam indo atrás de uma pessoa.”
Dezenas de manifestantes se reuniram do lado de fora do tribunal, alguns apoiadores e outros exigindo que Netanyahu fizesse mais para negociar a libertação de cerca de cem reféns ainda mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza.
Israel está em guerra com o grupo terrorista em Gaza há mais de um ano, período durante o qual Netanyahu conseguiu adiar suas audiências no tribunal. Na última quinta (5), porém, os juízes decidiram que ele deve começar a depor.
Acusado de suborno, fraude e quebra de confiança, o premiê prestará depoimento três vezes por semana, disse o tribunal. O julgamento começou em maio de 2020, mas foi interrompido pelo conflito em Gaza, que começou após os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023.
Netanyahu foi indiciado em 2019 em três casos envolvendo presentes de amigos milionários — ele e sua mulher, Sara, teriam aceitado mais de US$ 260 mil (R$ 1,5 milhão) em artigos de luxo, como cigarros, joias e champanhe, por favores políticos. Ele também teria agido para beneficiar empresários de mídia em questões regulatórias em troca de cobertura favorável nos meios de comunicação. Netanyahu nega as acusações e se declarou inocente.
“A verdadeira ameaça à democracia em Israel não é representada por aqueles que foram eleitos pelo público, mas por alguns entre as autoridades de aplicação da lei que se recusam a aceitar a escolha dos eleitores e estão tentando realizar um golpe com investigações políticas raivosas que são inaceitáveis em qualquer democracia”, disse em comunicado na quinta.
Em entrevista coletiva na véspera do depoimento, Netanyahu expressou indignação com a forma como as testemunhas foram tratadas durante as investigações.
Antes da guerra, as questões legais de Netanyahu já dividiam os israelenses. A tentativa de seu governo no ano passado de limitar os poderes do Judiciário polarizou ainda mais a população.
Além dos problemas domésticos, a imagem de Netanyahu sofreu novo desgaste no mês passado, quando o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra ele e seu ex-ministro de Defesa Yoav Gallant, juntamente com um líder do Hamas, por supostos crimes de guerra no conflito em Gaza.
Os críticos de Netanyahu o acusam de ser um político que faria qualquer coisa para permanecer no poder e acreditam que os processos serão levados adiante.
Na segunda (9), vários ministros do gabinete enviaram uma carta ao procurador-geral pedindo o adiamento do julgamento devido aos acontecimentos recentes na Síria após a queda de Bashar al-Assad. A Procuradoria rejeitou, sob o argumento de que é de interesse público concluir o julgamento o mais rápido possível.