O Exército de Israel diz estar perto do fim de suas operações terrestres contra o Hamas no norte da Faixa de Gaza, e já avisou seus soldados de que elas deverão se estender a outras regiões do território que era controlado desde 2007 pelo grupo terrorista palestino.
Ao mesmo tempo, sob intensa pressão internacional pela crise humanitária resultante de sua guerra, Tel Aviv aprovou nesta sexta (17) a entrada diária de dois caminhões de combustível vindos do Egito para as unidades da ONU dentro de Gaza.
A medida foi criticada pela ala radical de direita do governo de Binyamin Netanyahu. O premiê tenta ganhar tempo para ir em frente em seu plano de desabilitar o Hamas, cujo mega-ataque do dia 7 de outubro matou ao menos 1.200 pessoas e fez explodir o novo conflito no Oriente Médio. A questão da proporcionalidade está no centro das críticas: os palestinos contam 11,5 mil mortos até aqui.
O próprio Netanyahu disse que não conseguiu evitar as baixas civis. Na prática, nada muda, como uma fala do chefe do Estado-Maior da Forças de Defesa de Israel, general Herzi Halevi, a militares dentro de Gaza nesta sexta.
“Nós estamos próximos de desmantelar o sistema militar que havia no norte da Faixa de Gaza. Embora ainda haja trabalho para completar, estamos próximos disso. Vamos continuar operando dentro de Gaza e, até onde sabemos, mais e mais regiões [serão atingidas], sistematicamente eliminando comandantes, erradicando infraestrutura”, afirmou a soldados da 36ª e 252ª Divisões do Exército.
Como isso ocorrerá sem incorrer em mais mortes de civis é incerto e, provavelmente, impossível. No dia 13 de outubro, Israel deu um ultimato para que moradores da metade norte da faixa, incluindo a capital homônima, fossem para o sul, concentrando-se em cidades como Khan Yunis e Rafah.
Houve um êxodo, com mais de 600 mil dos 2,3 milhões de habitantes da faixa deixando suas casas segundo a ONU, mas não completo. Com o início da invasão terrestre de Gaza, em 27 de outubro, a crise aumentou.
As regiões ao sul seguiram sob bombardeio de Israel, e fica a dúvida acerca da natureza da operação terrestre. O setor norte da faixa está sendo destruído na prática, e Israel fez o que nunca tinha feito antes nesta semana, entrando em hospitais para procurar centros de comando e armas do Hamas.
O caso mais notável foi o do maior hospital, o Al-Shifa, ocupado na quarta (15). Não houve o massacre temido, mas a Organização Mundial da Saúde condenou duramente a ação. Desde então, Israel lida com o ônus de provar que estava certo em sua avaliação —que recebeu aval público do maior aliado, os Estados Unidos.
Na quarta e na quinta (16), vídeos foram distribuídos com imagens de armas, computadores e equipamentos atribuídos ao Hamas no Al-Shifa. Netanyahu disse que o local pode ter abrigado alguns dos 240 reféns que o grupo terrorista fez no 7 de outubro, mas apenas o corpo de uma dessas pessoas foi achado nas proximidades.
Críticos da guerra viram as imagens com natural ceticismo, ainda que, como a ação foi anunciada para tentar evitar danos às 1.500 pessoas ainda no hospital (650 delas pacientes), parece natural que o Hamas tenha tido tempo para retirar quaisquer materiais que mantivesse lá.
Foram encontradas entradas de túneis sob o complexo hospitalar, dando sustentação à alegação israelense de que havia um centro de comando do Hamas ali. Nesta sexta (17), as IDF levaram jornalistas do The New York Times para visitar o local.
Foi a primeira vez que repórteres tiveram acesso ao Al-Shifa após a operação. Segundo o NYT, foi impossível determinar até onde o túnel iria, até pelo temor de ele estar minado. O veredicto do jornal americano foi inconclusivo: “A visita controlada não irá resolver a questão se o Hamas usava o Al-Shifa”, afirmou.
A OMS, por sua vez, afirmou nesta sexta que vai tentar montar hospitais de campanha em Gaza.
Seja como for, o capítulo hospitalar da guerra parece estar rumo a uma conclusão, deixando em aberto a tática que Israel adotará com o resto da faixa. As IDF disseram ter matado alguns comandantes e integrantes do Hamas ao sul, particularmente em Khan Yunis, cidade onde os militares despejaram panfletos na quinta pedindo que civis deixem áreas “com terroristas”.
O centro nervoso do grupo terrorista em Gaza ficava na capital, e de fato parece estar neutralizado. O porto de Gaza e a infraestrutura naval do Hamas, também. A pulverização de forças remanescentes ao sul sugere ações terrestres mais focadas, mas isso é incerto agora.
Israel mata 7 na Cisjordânia
Enquanto isso, a violência segue em alta na Cisjordânia, que é governada pela ANP (Autoridade Nacional Palestina), rival que o Hamas expulsou de Gaza há 16 anos. Cinco palestinos foram mortos no campo de refugiados de Jenin e outros 2, em Hebron. Com isso, chega a 178 o número de mortos por soldados israelenses na região.
Uma escalada maior na Cisjordânia tem implicações diversas. Primeiro, explicita a fraqueza política da ANP, que é reconhecida pela ONU e por Israel e, em situações normais, seria a candidata a administrar Gaza após a queda presumida do Hamas —cuja liderança vive em confortável exílio entre o Qatar e a Turquia.
Segundo, se a violência espiralar fora de controle, pode haver um fluxo de refugiados para a Jordânia, país que luta contra instabilidade social há décadas e já viveu uma grave crise com os palestinos nos anos 1970.
Quando Israel ganhou a Guerra dos Seis Dias em 1967, tomou a Cisjordânia da Jordânia. Além de milhares de refugiados, viu cruzar a fronteira a liderança palestina, que aos poucos tornou-se uma ameaça ao Estado, instigando a derrubada da monarquia do rei Hussein.
O resultado foi o Setembro Negro, violento período de 1970 a 1971 que viu a expulsão da Organização para a Libertação da Palestina para o Líbano, de onde seriam desalojados depois por Tel Aviv. O país ao norte de Israel também está no centro das preocupações agora, com a campanha de baixa intensidade do Hezbollah, aliado do Hamas e também bancado pelo Irã como o grupo palestino, contra os israelenses.