O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, fez duros ataques ao organismo multilateral nesta sexta (13), em resposta aos apelos para que Tel Aviv respeite o direito humanitário em sua contraofensiva ao grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza.
“O Hamas cometeu essa atrocidade em larga escala porque eles contam com, e peço desculpas pelo que estou prestes a dizer, mas eles contam com a ONU, assim como fizeram no passado, para vir em seu socorro”, afirmou Erdan na sede da organização, em Nova York.
“Eles acreditam que a comunidade internacional agora irá impedir Israel de apagar a infraestrutura terrorista do Hamas. O Hamas quer que o mundo negue o direito de autodefesa de Israel para que possam manter seus recursos e cometer outra atrocidade desse tipo no futuro”, completou.
O discurso fez parte de um evento promovido por Israel na organização, do qual familiares de reféns do Hamas também participaram. A agenda ocorre pouco antes de uma reunião do Conselho de Segurança convocada pelo Brasil, que preside o órgão neste mês, para discutir a situação na Faixa de Gaza e a criação de um corredor humanitário para a saída de civis.
Na noite de quinta, o Exército de Israel informou as Nações Unidas que todos os palestinos vivendo na porção norte da região devem ir ao sul do território dentro de 24 horas, sugerindo uma provável invasão da região. Cerca de 1,1 milhão de pessoas moram na área indicada.
Em resposta, a UNRWA, braço da ONU voltado a refugiados palestinos, afirmou que o comunicado de Tel Aviv é “terrível”. “Isso só vai levar a níveis sem precedentes de miséria e empurrará as pessoas de Gaza em direção ao abismo”, disse a organização, em nota.
Segundo a entidade, cerca de 423 mil pessoas na região já foram deslocadas –sendo que 270 mil procuraram ajuda em abrigos da UNRWA. “Não há exceção, todas as partes envolvidas devem respeitar o direito da guerra; a ajuda humanitária deve ser fornecida sempre a todos os civis“, completou.
Erdan, no entanto, afirmou que a ONU deveria estar “elogiando Israel” por ter tomado o que chamou de “medidas de precaução”. Em seguida, ele acusou a organização de ignorar “por anos” que recursos enviados a Gaza abasteciam o Hamas em seu projeto para construir uma infraestrutura de terror.
“Enquanto escolas e hospitais em Gaza se tornavam bases de lançamento de foguetes do Hamas, a ONU permanecia em silêncio. Agora que Israel dá um aviso com antecedência à população civil de Gaza para evacuar áreas, porque valorizamos a vida e fazemos tudo o que podemos para minimizar as baixas civis, a ONU prefere condenar essas medidas preventivas e colocar pressão novamente sobre o lado que defende a civilização”, disse o diplomata.
“O que todos nós ouvimos não é a preocupação da ONU com os civis. O que ouvimos é a indiferença da ONU em relação ao assassinato de 1.300 israelenses. A ONU está deixando claro que não quer que Israel se defenda”, completou ele.
O evento na sede da organização nesta sexta teve ainda a participação da embaixadora dos Estados Unidos, Linda Thomas-Greenfield, que reforçou o apoio total do país ao aliado no Oriente Médio. A diplomata não mencionou civis palestinos.
Nesta semana, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já havia feito um apelo para que Tel Aviv respeite o direito humanitário internacional e ressaltou que a eclosão da violência “não ocorre no vácuo”, reconhecendo de um lado as “queixas legítimas” palestinas sobre a ocupação, há 56 anos, de seu território, mas que elas não justificam “atos de terror, mutilação e sequestro de civis”.
Há no total oito campos de refugiados administrados pela ONU na região, e a organização denuncia que ao menos duas escolas que gerencia para abrigar deslocados internos do atual conflito já foram atingidas por ataques que partem de solo israelense. Segundo a UNRWA, 12 funcionários foram mortos desde 7 de outubro.
Gaza vive sob um bloqueio de Israel por terra, ar e mar imposto desde que o Hamas assumiu o controle em 2007, fatores que deterioraram as situações socioeconômicas. De acordo com a agência da ONU que atua na área, ao menos 63% da população local vive em insegurança alimentar, e 81,5% vive na pobreza. O desemprego atinge mais de 46% da população —entre aqueles de 15 a 29 anos, chega a 62%.
A expectativa é que a reunião do Conselho de Segurança discuta a criação de um corredor humanitário por onde civis possam sair de Gaza –proposta apoiada pelo Brasil. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, participa do encontro.