O chanceler de Israel, Eli Cohen, afirmou que o grupo de brasileiros retido na Faixa de Gaza estará na próxima lista de permissões para cruzar a fronteira do território palestino sob ataque de Tel Aviv rumo ao Egito nesta sexta (10).
Cohen fez a promessa na quarta conversa por telefone sobre o caso com seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, nesta quinta (9). O contexto era tenso, com os desentendimentos entre a diplomacia dos dois países devido à operação contra um atentando do Hezbollah libanês no Brasil, o contato do embaixador israelense com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e as críticas pelo atraso na liberação dos brasileiros.
Numa conversa na sexta (3), Cohen havia previsto a saída para a quarta (8), mas o prazo foi frustrado pelos fechamentos da fronteira, que é controlada pelo Egito. A interrupção mais recente havia ocorrido na quarta.
O Egito reabriu a fronteira no posto de Rafah nesta quinta, mas não divulgou uma sétima lista de estrangeiros autorizados a deixar o território, palco de uma operação militar de Tel Aviv desde que o Hamas, o grupo palestino que o governa, lançou um mortífero ataque contra Israel há pouco mais de um mês.
O motivo foi o fechamento da fronteira na quarta (8), que gerou a incerteza acerca do fluxo de refugiados nesta quinta. O local, que é controlado pelo Cairo, havia sido interditado antes por dois dias, no sábado (4) e domingo (5) passados.
A expectativa no Itamaraty já era de que os brasileiros estivessem na lista desta sexta (10), o que não significa necessariamente que conseguirão sair devido às filas em Rafah, caso realmente sejam liberados.
Diplomatas no Egito se mobilizaram para a eventual liberação do grupo, e o avião da Força Aérea Brasileira que está no Cairo para resgatar os refugiados foi autorizado a ir a Al Arish, aeroporto próximo da fronteira com Gaza. Mas não há ainda definição: para sair, o Egito precisa publicar lista.
O objeto do fechamento foi o mesmo, mas as razões, diferentes. Na primeira ocasião, o Egito protestava contra o bombardeio de uma ambulância que Israel dizia transportar terroristas escondidos entre feridos para serem evacuados ao Egito.
Na segunda, ambos os lados concordaram que havia integrantes do Hamas em veículos enviados do norte de Gaza para Rafah. O grupo palestino não comentou o segundo episódio, mas no primeiro afirmou que as ambulâncias carregavam civis, e acusou Israel de matar 15 pessoas no ataque.
Cerca de 4.100 pessoas já tiveram autorizações nas seis primeiras rodadas de permissões, além de, é claro, os feridos —esses terão de voltar a Gaza após tratamento. Não se sabe exatamente quantas saíram.
Para os brasileiros, 24 do grupo, e os 10 palestinos que querem imigrar, a frustração contudo continua. No Brasil, ganhou tração, em especial à esquerda, a versão de que Israel estaria trabalhando para vetar os brasileiros, em retaliação à conduta do país quando esteve discutindo a guerra à frente do Conselho de Segurança da ONU.
Ocorre que Israel não está sozinho na elaboração das listas. Ela é de responsabilidade do Egito, em consulta com Tel Aviv, Washington e Doha, mediadores do processo. É fato que o maior aliado dos israelenses, os EUA, foram os mais favorecidos, mas o país tem o maior contingente de cidadãos em Gaza: cerca de 1.200 dos 7.500 elegíveis.
Além disso, uma adversária de Israel, a Indonésia, estava já na primeira lista. De todo modo, o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, divulgou mensagem na quarta para negar que seu país vete brasileiros.
Não que ruidos sejam inexistentes. Os governos americano e israelense tomaram nota das declarações de autoridades brasileiras na crise, particularmente o assessor internacional do Planalto, o ex-chanceler Celso Amorim, visto como muito pró-palestinos no conflito.
Enquanto isso, em Gaza, a insatisfação dos brasileiros segue em alta. O comerciante Hasan Rabee, de São Paulo, publicou um vídeo no Instagram queixando-se de Israel e dizendo que o embaixador Zonshine estava mentindo ao dizer que o país não controlava as listas de permissões. No fim da quinta, contudo, publicou que esperava deixar Gaza até o fim da semana.