Mais de quatro meses após o início do conflito, o governo de Binyamin Netanyahu apresentou a seu gabinete de segurança um plano para Gaza pós-guerra na noite desta quinta (22). O material não traz grandes novidades em relação ao que o premiê vinha verbalizando, mas contém decisões importantes e que podem desagradar aliados.
Uma das principais questões era a quem seria relegado o controle da faixa de terra palestina. O plano diz que os assuntos civis de Gaza serão geridos por “funcionários locais com experiência administrativa mas não ligados a países ou entidades que apoiam o terrorismo”.
Segue em aberto, desta forma, se estaria em cogitação algum controle da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que atualmente já governa parcialmente a Cisjordânia, outro território palestino ocupado —ainda que, dada as hostilidades entre a ANP e Tel Aviv, isso seja improvável.
Bibi, como o premiê é conhecido, também detalhou no plano que as Forças de Defesa continuarão a guerra até atingir seus objetivos, que seriam: destruir as capacidades militares e toda a infraestrutura do Hamas e do Jihad Islâmico, resgatar os reféns capturados em 7 de outubro e “remover qualquer ameada à segurança a longo prazo”.
O plano tampouco prevê uma data para a desmilitarização da Faixa. O material fala sobre manter “uma liberdade indefinida para operar em Gaza” de modo a evitar o ressurgimento da atividade terrorista e coloca como um objetivo de médio prazo desocupar o território.
De acordo com novo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, o conflito já teria matado 29,5 mil pessoas em Gaza, entre civis e membros do grupo, e ferido outras 69,6 mil pessoas.
Sobre a possibilidade de um Estado palestino independente, tampouco há novidades. O plano de Bibi diz que Israel continuará se opondo ao “reconhecimento unilateral de um Estado palestino, que considera uma forma de recompensa pelo terrorismo”.
O plano afirma ainda que Tel Aviv pretende estabelecer uma zona tampão de segurança no lado palestino da fronteira e permanecer no local enquanto houver necessidade. É algo que contraria o que vem apregoando o governo dos Estados Unidos, importante aliado de Israel. A administração de Joe Biden defende que não haja nenhuma redução do território de Gaza, o que ocorreria com uma zona tampão.
Outro ponto de atenção está na região da fronteira de Gaza com o Egito —onde, aliás, fica Rafah, região repleta de deslocados internos desta guerra e que Israel promete invadir em breve.
O projeto, segundo revisão do jornal The Times of Israel, pretende fechar a fronteira para evitar atividades contrabandistas, o que, por consequência, violaria a soberania egípcia no chamado corredor de Filadélfia.
O plano do pós-guerra, como esperado, também pede o fechamento da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, que tem forte atuação em Gaza. Desde as recentes acusações feitas por Israel sobre possíveis membros do Hamas atuando entre a equipe da organização, ela perdeu boa parte de seu financiamento.
Sobre a reconstrução de Gaza, destruída no conflito, há apenas linhas gerais para mencionar que o processo só seria possível “após a desmilitarização e a desradicalização”. O material menciona que a reconstrução seria financiada e liderada “por países aceitáveis”.
Netanyahu adiou debates sobre o esperado dia seguinte desta guerra, em grande medida, para evitar rusgas com demais membros radicais de sua coalizão que pressionam pelo restabelecimento da presença de colonos judeus em Gaza e pelo controle permanente da Faixa.
O porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse à agência Reuters que a proposta de Israel estava “fadada ao fracasso”. “Assim como quaisquer outros planos para mudar a situação geográfica e demográfica de Gaza”, seguiu Nabil Abu Rudeineh.
“Se o mundo estiver genuinamente interessado em ter segurança e estabilidade na região, deve pôr fim à ocupação de Israel das terras palestinas e reconhecer um Estado palestino independente com Jerusalém como sua capital.”
Ao longo desta sexta-feira (23), pouco após a divulgação do plano de Bibi, altos funcionários de Israel, do emirado do Qatar, dos EUA e do Egito se reúnem em Paris, na França, para tentar avançar em um acordo de cessar-fogo e na libertação dos mais de cem reféns ainda mantidos sequestrados em Gaza.