A proposta do governo de elevar para R$ 5.000 a faixa de renda isenta de Imposto de Renda é aprovada por 70% dos brasileiros que tomaram conhecimento do anúncio, mostra pesquisa Datafolha.
A ideia, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi o principal tema de pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no final de novembro, como forma de equilibrar, com uma notícia positiva para a população de menor renda, o impacto negativo do anúncio de cortes nos gastos públicos.
A estratégia parece ter dado certo, já que a maioria dos brasileiros, 53%, declarou estar informada -sendo 24% mais ou menos informados, 23% bem informados e apenas 6% mal informados. Em contrapartida, 47% disseram que não tomaram conhecimento.
Já em relação aos cortes de gastos a situação se inverte: mais da metade não tomou conhecimento das medidas (leia mais abaixo).
No caso da isenção para quem ganha até R$ 5.000, além dos 70% favoráveis, 26% se disseram contrários, 1% é indiferente e 2% não sabem.
Apoio ainda maior, de 77% dos brasileiros, foi dado à proposta de um novo imposto sobre os mais ricos -no corte do governo, os que têm renda mensal acima de R$ 50 mil.
Como aumentar a faixa de isenção para quem ganha até R$ 5.000 significaria uma perda de arrecadação de R$ 35 bilhões ao ano, a compensação viria da criação de um imposto mínimo de até 10% para os chamados super-ricos.
Além dos 77% favoráveis à ideia, outros 20% foram contrários, 2% se declararam indiferentes e 2% não souberam responder.
No cruzamento de dados da pesquisa, é possível identificar correlações entre a posição dos entrevistados sobre as mudanças tributárias e a sua opinião em relação à gestão do ministro.
O grupo mais crítico a Haddad foi aquele que se posicionou contra a cobrança de taxa mínima para quem ganha acima de R$ 50 mil por mês. Nesse segmento, 48% consideram a gestão do ministro ruim ou péssima, 27%, regular, e 19%, boa ou ótima. Entre os que disseram apoiar a taxa para a alta renda, a avaliação é um pouco melhor para o ministro: 37% consideram a gestão regular, 30%, ruim ou péssima, e outros 30%, ótima ou boa.
No entanto, a avaliação volta a ter piora entre os que se declararam contra a isenção na renda média: 37% consideram a gestão de Haddad regular, enquanto para 34% é ruim ou péssima, caindo a 25% quem avalia como ótima ou boa.
O grupo que apoia a isenção para quem ganha até R$ 5.000 tem visão similar à média geral identificada na pesquisa: 34% consideram a gestão Haddad regular, e outros 34%, ruim ou péssima, enquanto para 28% é boa ou ótima.
MAIORIA DOS BRASILEIROS NÃO FICOU SABENDO DE PACOTE DE CORTES – O Datafolha mostra que a população em geral deu menos atenção ao anúncio de corte de gastos. A maioria, 59%, respondeu nem ter tomado conhecimento das medidas, ante 41% que declararam ter acompanhado o anúncio. Nesse grupo, 20% disseram estar mais ou menos informados sobre o pacote, enquanto 16% se declararam bem informados, e 5%, mal informados.
As percepções em relação a Haddad variam quando se considera o conhecimento em relação ao pacote.
Entre os que não tomaram conhecimento das medidas, 39% responderam que consideram a gestão regular, e outros 28%, ruim e péssima. A parcela que avalia ser ótima ou boa é de 22%, e 7% não sabem.
Entre o que declararam ter conhecimento sobre as medidas, o número de críticos, na média, é mais expressivo. Para 42%, a gestão é ruim ou péssima, para 27%, regular, enquanto 29% afirmaram ser ótima ou boa.
No segmento dos que se consideram informados sobre o teor das medidas, há quase polarização entre os bem informados, com 41% considerando que Haddad faz um gestão ruim ou péssima e outros 39% avaliando como ótima ou boa.
Entre os que tomaram conhecimento das medidas de corte de gastos, alguns pontos são mais consensuais.
Segundo a pesquisa, 89% se declararam a favor da adoção de medidas para reforçar a fiscalização de acesso ao Bolsa Família e ao BPC (Beneficio de Prestação Continuada) para evitar fraudes, enquanto 9% foram contra. Fixar a idade mínima de 55 anos para os militares se aposentarem (hoje não há idade mínima) contou com apoio de 73%, enquanto 23% disseram ser contra.
Há temas mais polarizados. Proibir que pessoas com direito a pensões de militares possam repassar indefinidamente esse benefício para outros parentes divide opiniões: 49% afirmaram ser a favor, e 47%, contra. A pesquisa também identificou que 54% concordam que é preciso proibir que funcionários públicos recebam salários acima de R$ 44 mil por mês, enquanto 42% são contra.