O regime do Irã vai rever a doutrina nuclear do país se Israel responder ao ataque inédito feito por Teerã no último sábado (13), afirmou nesta quinta-feira (18) um comandante da Guarda Revolucionária iraniana. O processo de enriquecimento do urânio conduzido pela nação persa levanta preocupações da comunidade internacional, embora autoridades digam que os fins são “estritamente pacíficos”.
“As ameaças do regime sionista contra as instalações nucleares do Irã possibilitam a revisão de nossa doutrina nuclear e o desvio de nossas considerações anteriores”, disse Ahmad Haghtalab, comandante encarregado da segurança nuclear, segundo a agência de notícias iraniana Tasnim.
Em janeiro, Rafael Grossi, o diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), disse à Folha que o Irã havia cruzado “todas as linhas vermelhas” rumo à bomba atômica. Há dois anos e meio, o acesso de inspetores da agência dentro do escopo do acordo nuclear de 2015 está virtualmente cortado, com exceções pontuais. O arranjo tinha sido capitaneado pelos Estados Unidos sob o governo democrata de Barack Obama, mas foi rompido por seu sucessor republicano, Donald Trump, em 2018.
O acordo, a grosso modo, previa o relaxamento de sanções econômicas contra Teerã em troca do compromisso, monitorado pela AIEA, de que o programa nuclear do país teria apenas fins pacíficos.
Segundo Grossi, o Irã voltou a operar seu programa de forma acelerada e sem vigilância. “É notável como temos capacidade de nos acostumarmos [à situação].”
Israel é 1 das 9 potências nucleares do mundo —e a única que não o admite. Seu arsenal é estimado por entidades como a Federação dos Cientistas Americanos em 90 ogivas. Teerã, por sua vez, prega o fim do Estado judeu, assim como o aliado Hamas, em guerra com os israelenses, e seus parceiros como o Hezbollah libanês e os houthis do Iêmen.
Teerã lançou no último sábado (13) um ataque sem precedentes contra Israel em resposta ao bombardeio à embaixada iraniana em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária do Irã, em 1º de abril —o regime iraniano responsabiliza Tel Aviv, que não assumiu autoria.
Os cerca de 300 mísseis e drones iranianos foram, em sua maioria, interceptados pelas forças israelenses e aliados. Tel Aviv, porém, diz que responderá à ofensiva para preservar a credibilidade de seus meios de dissuasão. Já o regime iraniano afirma considerar o assunto encerrado, mas ameaça realizar um novo ataque a depender da resposta de Israel.