A primeira pesquisa independente sobre a percepção do público russo acerca da invasão da região meridional de Kursk pelas forças da Ucrânia mostra que 91% dos cidadãos do país de Vladimir Putin estão preocupados com a situação.
O levantamento foi feito pelo Centro Levada, que é insuspeito de amores pelo Kremlin: é designado como “agente estrangeiro”, por receber fundos do exterior, e sofre pressões enquanto busca medir o pulso do russo.
O instituto ouviu 1.619 pessoas presencialmente em 137 cidades de 50 regiões russas ao longo de agosto, finalizando a coleta na quarta (28). A margem de erro média é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Ele aferiu que 94% dos russos estão cientes da invasão, e 51% deles acompanham as notícias sobre a crise de perto. Dos 91% que se dizem preocupados, 63% afirmam estar “muito”. O principal motivo de consternação, para 41%, são as vítimas civis, cerca de 20 até aqui. Cerca de 130 mil pessoas estão desalojadas.
Depois vêm notícias especificamente ruins para o Kremlin: 25% afirmam estar preocupados com a violação do solo russo, algo que não acontecia desde que os tanques nazistas romperam a fronteira soviética em 1941, e 11%, com a fraqueza e o despreparo das autoridades.
A invasão da Ucrânia começou em 6 de agosto e, depois de duas semanas de avanços, está em ritmo de estabilidade. Analistas especulam que não houve uma contraofensiva russa mais forte até aqui porque o foco de Putin está no leste da Ucrânia.
Lá, os avanços são diários rumo a Pokrovsk, centro logístico que, se cair, pode levar ao colapso de toda a defesa de Kiev na região de Donetsk. A área é 1 das 4 anexadas ilegalmente pela Rússia em 2022, e ainda tem cerca de 40% do território sob domínio ucraniano.
Nesta sexta (29), o Ministério da Defesa da Rússia anunciou o avanço sobre quatro vilarejos de Donetsk, além de uma cidade em Kharkiv (norte) e outra em Lugansk (leste). Já o comando das Forças Armadas da Ucrânia afirmou ter penetrado 2 km em Kursk.
É uma corrida contra o tempo que não favorece o presidente Volodimir Zelenski, que empregou algumas de suas melhores tropas na ação contra a Rússia. Tudo indica que ele quer manter uma peça de barganha na mesa em eventuais negociações —que Putin condiciona à entrega das quatro regiões que anexou e à neutralidade do vizinho.
Com a invasão, contudo, o Kremlin ficou politicamente impedido de seguir com as tratativas que vinham se desenrolando. Putin solidificou seu poder ao longo de um quarto de século baseado na imagem de que retomou o status de potência da Rússia, algo que foi arranhado pela pequena, mas simbólica, invasão.
O alto grau de preocupação dos russos é prova de que Putin pode até esperar uma vitória retumbante no leste ucraniano, mas terá de lidar com a questão no sul de seu próprio país.
Enquanto isso, a guerra segue em ritmo acelerado. Os ucranianos disseram ter derrubado 12 de 18 drones lançados nesta madrugada pelos russos, que também empregaram mísseis balísticos contra o vizinho.
Na capital homônima de Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, uma criança e dois adultos morreram num a taque com mísseis a um prédio residencial. Em Sumi, no norte, 2 morreram e 11 ficaram feridos em um bombardeio.
O apoio à invasão russa iniciada em fevereiro de 2022 segue, segundo o Centro Levada, alto. Nada menos que 78% dos russos aprovam as ações militares, nível semelhante ao maior já registrado pelo instituto, 80%, no mês seguinte ao ataque.
Subiu também o número de pessoas que defendem a continuidade da guerra ante uma solução negociada: 41%. Ao mesmo tempo, 60% são contrários a uma nova mobilização militar. Por fim, aprovam a gestão de Putin 85% dos russos, em linha com a média desde que a invasão começou.