O governo da Índia suspendeu nesta quinta-feira (21) a emissão de vistos para cidadãos canadenses. A decisão escala a crise diplomática entre os países iniciada por acusações relacionadas ao assassinato de um ativista sikh, religião fundada pelo Guru Nanak no século 15, na cidade de Surrey, no Canadá.
O anúncio foi feito horas após o governo canadense anunciar uma redução temporária da delegação consular na Índia devido a ameaças. Em nota, a representação de Ottawa em solo indiano disse que adotou a medida para garantir a segurança dos funcionários no atual contexto de “tensões exacerbadas”.
O Canadá não especificou quantos diplomatas serão impactados, mas disse que seus escritórios permaneceriam operacionais. “Com alguns dos nossos diplomatas tendo recebido ameaças em várias plataformas de redes sociais, a Global Affairs Canada avalia [a continuidade do] seu pessoal na Índia”, disse em comunicado a agência governamental que administra as relações consulares de Ottawa.
A crise explodiu no início da semana, quando o premiê canadense, Justin Trudeau, anunciou a expulsão de um agente de segurança indiano de seu país. A justificativa era de que a inteligência canadense suspeitava que o governo indiano estivesse envolvido na morte do ativista Hardeep Singh Nijjar em junho.
Nova Déli chamou as acusações de absurdas e, em represália, expulsou um diplomata canadense. Nesta quarta (20), o governo indiano ainda recomendou que seus cidadãos evitassem viagens ao Canadá.
“A situação de segurança devido à inação do governo canadiano resultou em perturbações e, assim, suspendemos os pedidos de visto”, afirmou nesta quinta o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano, Arindam Bagchi. Ele disse que a medida se aplica a todas as categorias de vistos e não estabeleceu um prazo para a retomada da emissão do documento.
A BLS International, empresa indiana que atua com vistos, disse que a missão da Índia no Canadá divulgou um aviso mencionando “razões operacionais” para a suspensão dos serviços “até novo aviso”.
Nijjar foi assassinado a tiros por dois homens encapuzados do lado de fora de um templo em Surrey. Ativista favorável à criação de um Estado sikh na região do Punjab, ele era procurado pelas autoridades indianas por acusações de “terrorismo” e de “conspiração para cometer assassinatos”.
Dezenas de manifestações pela ampliação dos direitos da comunidade sikh eclodiram no Canadá, na Índia e no Paquistão após o assassinato. Com a crise diplomática, Ottawa anunciou a suspensão das negociações para um acordo de livre-comércio com a Índia.
Até o momento, autoridades canadenses não informaram por que suspeitam que o governo indiano esteja conectado com o assassinato de Nijjar. Nesta quarta, Nova Déli manifestou preocupação com a segurança de seus cidadãos em solo canadense devido à proliferação de “crimes de ódio” contra eles.
Em resposta, o ministro da Segurança Pública canadense, Dominic LeBlanc, disse que o Canadá é seguro. O país tem uma das maiores comunidades de origem indiana no exterior: são 1,4 milhão de pessoas, ou 3,5% dos 40 milhões que compõem a população canadense. Desde 2018, indianos também são a nacionalidade mais comum entre estudantes estrangeiros, representando 40% dessa comunidade.