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Índia quer dobrar produção de carvão até 2030 – 09/01/2024 – Ambiente

Enquanto diplomatas climáticos na COP28, a conferência do clima da ONU, em Dubai, debatiam um acordo para a transição dos combustíveis fósseis em dezembro passado, a Índia enfrentava outro dilema energético: precisava construir rapidamente mais capacidade energética.

“Para atender à crescente demanda”, o governo indiano disse em 11 de dezembro que espera aproximadamente dobrar a produção de carvão do país, alcançando 1,5 bilhão de toneladas até 2030. Mais tarde, o ministro de energia Raj Kumar Singh apresentou planos para adicionar 88 gigawatts de usinas termelétricas até 2032. A grande maioria delas queimará carvão.

O movimento de investir mais no combustível mais poluente do mundo —um dos maiores contribuintes para o aquecimento global— pode parecer contraditório para o país do sul asiático, que é altamente vulnerável aos impactos climáticos.

No entanto, à medida que se aproximam as eleições em abril e maio, o primeiro-ministro, Narendra Modi, está ansioso para evitar qualquer risco de escassez de energia. Juntamente com ondas de calor recordes, a Índia tem visto grandes picos na demanda por eletricidade ao longo de dois anos consecutivos.

“A política da Índia é construir tudo. Promover as energias renováveis, mas também promover o carvão e outros combustíveis fósseis”, disse Sandeep Pai, diretor da organização focada em clima Swaniti Global. “A justificativa é um aumento na demanda de energia”.

No entanto, quando se trata de energia renovável, a Índia não está construindo o suficiente para atingir sua meta ambiciosa de 500 gigawatts de capacidade de energia limpa até 2030. As taxas de instalação de energia solar e eólica nos últimos anos são cerca de um terço do necessário, de acordo com o centro de pesquisa em energia BloombergNEF (BNEF).

Há uma combinação de fatores que afetam a implementação das energias renováveis. As principais razões, segundo Rohit Gadre, da BNEF , são os incentivos desalinhados das distribuidoras de eletricidade estatais, a dificuldade de adquirir as terras necessárias e a falta de políticas consistentes nos níveis federal e estadual. Como resultado, mesmo com o aumento da demanda por energia, não há interesse suficiente entre os investidores privados para acelerar os aportes em energias renováveis.

Isso não significa que as coisas serão fáceis para o carvão, que enfrenta desafios semelhantes para atrair novos investimentos. “Usinas de energia solar e eólica podem ser construídas rapidamente, enquanto usinas a carvão levarão muito mais tempo e a custos mais altos”, disse Vibhuti Garg, diretor do sul asiático do Instituto para Análise de Economia e Finanças de Energia, uma organização sem fins lucrativos.

Nem Pai nem Gadre esperam que a Índia atinja as metas de carvão que estabeleceu. O cenário de transição econômica da BNEF prevê que o uso de carvão pela Índia atingirá o pico em 1,1 bilhão de toneladas antes de 2040.

Em última análise, a Índia precisa de investimentos em sua infraestrutura energética, pois o país de renda média baixa busca crescimento econômico. O consumo per capita de eletricidade na Índia está muito abaixo dos países desenvolvidos ou mesmo da China. E a Índia ainda está longe de usar sua parcela justa do orçamento global de carbono.

A Índia, assim como outros grandes países em desenvolvimento, também precisa de mais incentivos para escolher um caminho mais verde. Nos últimos três anos, o G7 desenvolveu a Parceria de Transição Energética Justa para ajudar a África do Sul, o Vietnã e a Indonésia a reduzir o uso de carvão. Esses acordos foram complicados e ainda não mostraram resultados.

Embora o mundo possa ter concordado em fazer a transição dos combustíveis fósseis na COP28, ainda não encontrou maneiras eficazes de ajudar países como a Índia a substituir o carvão, sugeriu o ministro do meio ambiente Bhupendra Yadav nesta segunda-feira (8), no lançamento do livro intitulado “Modi Energising A Green Future” (em tradução livre, “Modi Energizando um Futuro Verde”).

Ele disse, ainda, que essa questão não precisa ser apenas a respeito de países ricos distribuindo dinheiro, mas também são necessárias melhores políticas, transferência de tecnologia e treinamentos.

Pai ecoou essa visão. “O mundo precisa oferecer algo à Índia para não carbonizar”, disse ele. “O principal desafio é que o mundo realmente não oferece muito à Índia ou a qualquer país em desenvolvimento”.

Fonte: Folha de São Paulo

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