O incêndio florestal que há uma semana voltou a provocar mortes e destruição na Grécia é o maior registrado no território europeu em anos, segundo nota divulgada nesta sexta-feira (25) pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, vinculado à União Europeia.
O número de mortes devido aos incêndios nos últimos meses subiu para 21. Já nos últimos dias, as chamas voltaram a ganhar força devido aos ventos fortes e ao clima quente e seco. “A Grécia está passando pelo ano mais difícil em termos de condições climáticas na história do registro e coleta de dados meteorológicos”, disse o porta-voz do governo grego, Pavlos Marinakis.
Segundo ele, as equipes de bombeiros estão lutando contra 517 focos de incêndio que eclodiram na semana passada. Um deles, no nordeste, começou no último dia 19 perto da cidade de Alexandrópolis e já queimou 72,3 mil hectares, tornando-se o maior na Europa em anos, de acordo com o Copernicus.
Milhões de pessoas têm sido impactadas por fenômenos meteorológicos extremos e por ondas de calor prolongadas em todo o mundo nas últimas semanas. O IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática) já afirmou que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças é causada pela ação humana.
Na Grécia, embora os incêndios florestais sejam comuns durante o verão no Hemisfério Norte, autoridades dizem que a destruição registrada neste ano não tem precedentes. “É a combinação de altas temperaturas, seca e ventos que, infelizmente, cria as condições ideais para incêndios florestais com comportamento extremo”, disse Marinakis. “Tem sido um verão extremamente difícil.”
Milhares de pessoas tiveram de fugir de suas casas em todo o país para escapar das chamas, e os pacientes de um hospital precisaram ser levados para uma balsa no início desta semana por razões de segurança. As autoridades ainda suspeitam que alguns dos incêndios tenham sido provocados de forma criminosa, e três pessoas foram detidas nos últimos dias.
Na terça (22), 19 corpos carbonizados, incluindo de crianças, foram encontrados na região de Avantas, também no nordeste grego e próximo da fronteira com a Turquia, onde um violento incêndio florestal se propagou rapidamente. Como não há queixas de moradores desaparecidos, autoridades investigam a possibilidade de que as vítimas sejam migrantes que entraram no país de forma irregular.
Oito corpos estavam amontoados, no que parecia ser um “abraço final”, segundo investigadores. “Eles perceberam que o fim estava chegando”, disse o legista Pavlos Pavlidis, acrescentando que os corpos estão carbonizados e irreconhecíveis. “Foi uma tentativa desesperada de se proteger.”
Outros corpos foram encontrados sob os destroços de um abrigo destruído pelas chamas. A região atingida, Evros, é uma rota popular para quem cruza o rio de mesmo nome da Turquia para a Grécia.
Imagens de satélite mostram a devastação causada ao longo da rota. Áreas de florestas ficaram completamente queimadas, e a vegetação usada por migrantes para se esconder da polícia se transformou numa armadilha.
Nos primeiros dias do incêndio, George Hatzigeorgiou, presidente da comunidade Avantas, disse ter avistado três grupos de migrantes na área. “Havia uma mulher com uma criança. O incêndio estava a 100 metros de distância”, disse ele, acrescentando que buzinou para alertar sobre o perigo.
“Implorei-lhes, em inglês, que fossem à praça da aldeia. Eles diziam ‘polícia, polícia’. Tinham medo de serem presos”, disse ele. “Eu disse a eles que era melhor ir à praça e ser preso do que ser queimado vivo.”
Das 18.700 chegadas de migrantes à Grécia no ano passado, um terço entrou no país por via terrestre, mostram dados das Nações Unidas. Quase 4.000 pessoas cruzaram Evros este ano, segundo a polícia.
Hatzigeorgiou diz que encontra com frequência sacos e mochilas com liras turcas ou pacotes de medicamentos descartados na região. “Temos visto essas pessoas há muitos anos, quase diariamente”, disse ele. “Encontrei centenas dessas coisas.”
Grupos de defesa dos direitos humanos e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) há muito que acusam a Grécia de maltratar as pessoas em situação irregular na fronteira e, por vezes, de as empurrar de volta à Turquia, uma prática que é ilegal sob o direito internacional.
Num comunicado após a descoberta dos corpos na terça-feira, Adriana Tidona, investigadora de migração da Anistia Internacional, disse que as autoridades “têm respondido sistematicamente com retornos forçados ilegais na fronteira, negação do direito de procurar asilo e violência”.
A Grécia nega as acusações, dizendo que a sua política de migração “estrita mas justa” protege as fronteiras da UE. Nesta sexta, os incêndios ainda ardem no nordeste grego, e Hatzigeorgiou teme que mais corpos sejam encontrados na floresta. “Para mim, é quase certo”, disse.