A disposição do governo direitista da Hungria em apoiar o aliado Jair Bolsonaro (PL) não se restringiu aos dois dias em que o ex-presidente ficou hospedado na embaixada do país europeu, em fevereiro, como revelou nesta segunda (25) o jornal The New York Times. Em julho de 2022, em plena campanha por sua reeleição, Bolsonaro recebeu de Budapeste uma oferta de ajuda para conseguir derrotar Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em um encontro em Londres, o chanceler húngaro, Péter Szijjártó, conversou com a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Cristiane Britto. Ambos participavam da Conferência Ministerial Internacional sobre Liberdade de Religião ou Crença.
De acordo com um relatório de viagem interno produzido por Cristiane e obtido pela Folha, no início da conversa Szijjártó afirmou ter solicitado o encontro bilateral porque os dois países compartilhavam a mesma visão sobre família. “Em segundo lugar, devido ao interesse em saber mais do cenário eleitoral, ele questionou se haveria algo que o governo húngaro poderia fazer para ajudar na reeleição do presidente Bolsonaro”, escreveu a ministra.
Na reunião, o chanceler também disse que o Brasil tem a maior comunidade húngara na América Latina e que esta apoiava majoritariamente Bolsonaro. No fim do encontro, “desejou sucesso nas próximas eleições presidenciais”, ainda segundo o relato de Cristiane.
Procurados à época, a pasta da Mulher, o Itamaraty e a embaixada da Hungria no Brasil não responderam a questionamentos. Ao Ministério das Relações Exteriores a reportagem perguntou se algum diplomata acompanhou o encontro e se o profissional relatou a superiores a tentativa de interferência no processo político-eleitoral brasileiro sugerida por Szijjártó. Não houve resposta.
A Hungria é um dos raros aliados internacionais de Bolsonaro. O premiê, Viktor Orbán, esteve no Brasil para a posse do colega, e a cortesia foi retribuída em fevereiro de 2022, quando o chefe do Planalto foi à Hungria —um dos poucos países europeus visitados pelo mandatário.
Naquela ocasião, em Budapeste, Bolsonaro chamou Orbán de irmão e destacou que ambos compartilham valores. Estes passam pelo que o então presidente brasileiro e o premiê húngaro chamam de defesa da família tradicional, rótulo que pressupõe críticas a qualquer composição familiar que não envolva um homem e uma mulher cisgênero.