Em entrevista à agência de notícias AFP, o ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, 89, afirmou que considera a Venezuela um regime autoritário e que acredita que o país passará por um conflito interno.
“Tenho uma discordância íntima com regimes autoritários, mas não apoio a intervenção externa. Os problemas da Venezuela devem ser resolvidos pelos venezuelanos. E, de qualquer forma, eles devem ser ajudados. Mas não interfiram”, disse. “Haverá alguma revolução de dentro da Venezuela em algum momento.”
Para o ex-presidente, o governo do ditador Nicolás Maduro, que já dura 11 anos, não é de esquerda e não pode ser comparado ao do antecessor, Hugo Chávez, que governou o país de 1999 até 2013, quando morreu em decorrência de um câncer. “Alguns dos chavistas estão fora disso e muitos deles são perseguidos no mundo.”
Pepe Mujica também lamentou o regime da Nicarágua, comandada desde 2007 pelo ditador Daniel Ortega e sua esposa e vice, Rosario Murillo —ainda neste mês, o Congresso do país aprovou uma reforma constitucional que, na prática, dá poder sem limites aos líderes. “O que mais me irrita é quando eles brincam de democracia e depois trapaceiam. Isso é insuportável”, afirma.
Sobre o autoritarismo na América Latina, o ex-presidente uruguaio avalia o fenômeno como um retrocesso. “Nós vivemos o autoritarismo historicamente quando os Estados Unidos se intrometeram em todos os lugares, mas agora também estamos atrapalhando.”
Uma das preocupações do ex-guerrilheiro é a falta de um sucessor à vista para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “velho amigo”. “Lula está perto dos 80 anos de idade e ele não tem substituto. Essa é a desgraça do Brasil.”
Mujica, que tratou um câncer de esôfago neste ano, afirmou que não pretende ocupar mais cargos políticos, e disse que a vitória da Frente Ampla no Uruguai, com a eleição de Yamandú Orsi para a presidência, se assemelha a um prêmio de despedida.
“Você está falando com um veterano de quase 90 anos, que passou por muitos choques, então a vitória me deu um sentimento de gratidão, uma alegria, e tem algo de prêmio para mim, um pouco como um prêmio no final da minha carreira.”