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Havaí: Empresa foi avisada sobre rede frágil antes de fogo – 20/08/2023 – Mundo

A Hawaiian Electric, maior empresa de energia elétrica do Havaí, tem conhecimento há anos que condições climáticas extremas estavam se tornando mais perigosas, mas a companhia fez pouco para fortalecer seus equipamentos e não adotou planos de emergência usados em outros lugares, como estar preparada para interromper o fornecimento de energia com o objetivo de prevenir incêndios.

Antes das chamas em Maui, no último dia 9, que mataram mais de cem pessoas, muitas partes das operações da Hawaiian Electric mostravam sinais de estresse —e legisladores estaduais, grupos de consumidores e autoridades do condado vocalizaram que a empresa precisava fazer grandes mudanças.

Em 2019, a própria firma começou a citar o risco de incêndios. A companhia disse naquele ano que estudava como as concessionárias de serviços públicos na Califórnia lidavam com ameaças semelhantes.

Dois anos depois, em um relatório sobre o furacão Lane, o governo de Maui alertou possíveis problemas com “linhas de energia acima do solo que falham, dão curto-circuito ou estão baixas e podem causar faíscas que iniciariam um incêndio florestal, especialmente em condições ventosas ou tempestuosas”.

Mas foi apenas no ano passado que a empresa pediu aos reguladores estaduais autorização para gastar US$ 190 milhões para fortalecer postes de energia e outros equipamentos —pedido que ainda está pendente. Mesmo quando for aprovado, o trabalho levará vários anos para ser concluído.

A atenção se voltou para a empresa após a divulgação de um vídeo gravado em 8 de agosto que parecia mostrar uma linha de energia em Lahaina lançando faíscas e incendiando grama seca algumas horas antes de o incêndio devastar a cidade. Além disso, dados de sensores de uma empresa chamada Whisker Labs parecem mostrar grandes falhas nos sistemas da empresa assim que o vento aumentou.

“Este não é um sistema altamente reforçado”, disse Robert McCullough, da McCullough Research, firma de consultoria em energia em Portland, sobre o sistema da Hawaiian Electric. “Não foi fortalecido.”

Executivos de concessionárias de serviços públicos e reguladores em todo o país ficaram chocados com a ferocidade e a frequência de desastres ligados ao clima nos últimos anos, como incêndios florestais na Califórnia e a tempestade de inverno de 2021 no Texas, que deixou parte do estado sem energia por dias.

Mas especialistas dizem que essas calamidades e seus efeitos nas redes elétricas não deveriam ter sido surpreendentes. Em muitos lugares, as concessionárias negligenciaram a melhoria e a manutenção das redes elétricas por décadas, e reguladores e legisladores em grande parte ignoraram o problema.

“O problema das concessionárias de serviços públicos nos EUA é que elas agem como monopólios protegidos diante de riscos catastróficos”, disse Michael Wara, pesquisador de políticas climáticas e energéticas da Universidade Stanford, para quem a Hawaiian Electric poderia ter feito mais para evitar que seu equipamento se tornasse uma causa potencial de incêndios. “Mas a natureza não se importa que elas sejam um monopólio protegido. Você precisa agir como uma empresa comum diante de um grande risco”.

A Hawaiian Electric é uma concessionária de serviços públicos única. Como o estado é composto por muitas ilhas espalhadas por 2.400 km, a empresa opera muitas redes elétricas e importa combustível para alimentar usinas de energia. Como resultado, o estado tem as tarifas de eletricidade mais altas do país. Isso torna muito mais difícil para a empresa e o estado investirem em atualizações caras na rede.

“Sempre houve uma pressão para pagar por isso”, disse o senador estadual Gilbert Keith-Agaran, referindo-se aos planos de melhorar a rede elétrica. “A concessionária não quer pagar por isso, a menos que possa repassar o custo aos consumidores.” A proposta de US$ 190 milhões que a Hawaiian Electric fez para melhorar sua rede elétrica teria, entre outras coisas, substituído postes de energia antigos por novos, incluindo 80 em Maui. Especialistas em energia afirmam que muitos dos postes da empresa provavelmente não eram fortes o suficiente para resistir aos ventos que atingiram Lahaina.

Alguns dos postes da empresa estão cercados por gramíneas invasoras que podem se tornar um combustível explosivo na estação seca. Especialistas há muito tempo alertam que pouco estava sendo feito para controlar a propagação e o crescimento desse tipo de planta. “Muitas de nossas preocupações eram de que essa infraestrutura está muito atrasada”, disse Jennifer Potter, ex-membro da Comissão de Serviços Públicos do Havaí que mora em Maui, referindo-se especialmente aos postes. “Muitos que foram comprometidos estão assim há anos”. Potter deixou a comissão em novembro após quatro anos.

A comissão não respondeu a um pedido de comentário. A Hawaiian Electric afirma ter gasto US$ 111 milhões em manejo de vegetação e US$ 287 milhões em substituição de equipamentos, fortalecimento da rede, inspeções e uso de tecnologia como drones e imagens a laser para controlar a rede desde 2018.

“Vamos analisar todas as decisões que tomamos, todas as táticas que empregamos para lidar com a ameaça de incêndios em Maui”, disse Jim Kelly, porta-voz da empresa. “Pessoas de fora falam com confiança sobre o que aconteceu e o que fizemos ou deixamos de fazer, mas o fato é que levamos a ameaça a sério e fomos confrontados por um evento climatológico extraordinário em 8 de agosto.”

Mas alguns especialistas dizem que a Hawaiian Electric poderia ter feito mais.

Wara disse que a Hawaiian Electric poderia ter estabelecido um programa de desligamento de energia em consulta com as autoridades locais e os serviços de emergência. Na Califórnia, após alertar moradores e autoridades, as empresas de serviços públicos desligam a energia quando ventos fortes se aproximam, com o objetivo de reduzir a chance de que as linhas de energia provoquem incêndios.

Henry Curtis, diretor-executivo da Life of the Land, ONG sem fins lucrativos do Havaí que representa os consumidores perante a Comissão de Serviços Públicos do estado, disse que “apoia fortemente” programas de desligamento de energia. Segundo ele, a firma tem sido negligente em relação a essa ideia.

“Estamos levantando a questão das mudanças climáticas há mais de duas décadas, e a empresa de serviços públicos tem sido muito lenta em lidar com isso”, disse Curtis. “Certamente, a Hawaiian Electric sabia que Lahaina era o local mais vulnerável. Eles sabem disso há anos.”

Shelee Kimura, CEO da Hawaiian Electric, afirmou após o incêndio que a empresa não desligou a energia em Lahaina porque a eletricidade era necessária para manter as bombas de água e os dispositivos médicos funcionando. “Em Lahaina, a eletricidade alimenta as bombas que fornecem água —e isso também era uma necessidade crucial durante aquele período”, disse Kimura em uma entrevista coletiva.

“Existem escolhas que precisam ser feitas —e todos esses fatores influenciam.”

Fonte: Folha de São Paulo

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