Claudine Gay permanecerá como reitora da Universidade Harvard, afirmou o conselho da instituição nesta terça-feira (12). O contexto do anúncio é a controvérsia a respeito de suas respostas em uma audiência no Congresso sobre antissemitismo no campus, que foram consideradas evasivas.
Os membros do órgão superior da instituição deliberaram até a noite desta segunda-feira (11) antes de finalmente decidir não remover Gay, a primeira reitora negra da universidade, de seu cargo.
“Como membros da Corporação de Harvard, hoje reafirmamos nosso apoio à liderança contínua da reitora Gay na universidade”, diz um comunicado assinado por todos os membros do conselho, exceto Gay. “Nossas extensas deliberações confirmam nossa confiança de que Gay é a líder certa para ajudar nossa comunidade a se curar e enfrentar os sérios problemas sociais que estamos enfrentando“.
No entanto, o comunicado reconhece que Gay cometeu erros, incluindo em sua reação inicial ao ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro. “Muitas pessoas sofreram danos e dor enormes por causa do brutal ataque terrorista do Hamas, e a declaração inicial da universidade deveria ter sido uma condenação imediata, direta e inequívoca”, diz o comunicado.
Gay agora enfrenta o desafio de reconquistar a confiança da comunidade, abalada pelo conflito em Gaza.
O apoio à permanência da reitora, no cargo desde julho, começou a diminuir com sua relutância inicial em condenar os ataques. Após críticas de figuras influentes como Lawrence H. Summers, ex-secretário do Tesouro e ex-reitor de Harvard, Gay emitiu declarações mais fortes, mas isso não foi suficiente para acalmar a insatisfação de muitos estudantes ou ex-alunos judeus.
Após sua aparição no Congresso em 5 de dezembro, doadores, ex-alunos e estudantes intensificaram uma campanha de pressão para destituí-la, enquanto apoiadores se uniram para tentar salvar sua gestão. Cerca de 700 membros do corpo docente de Harvard e centenas de ex-alunos vieram em sua defesa em cartas abertas.
Uma delas veio de membros negros do corpo docente, que chamaram os ataques à reitora de “espúrios e politicamente motivados”. A carta, redigida e assinada por alguns dos professores mais proeminentes de Harvard, afirmou que Gay “deveria ter a chance de cumprir seu mandato para demonstrar sua visão”.
Críticos de Gay também se manifestaram.
Um deles foi William A. Ackman, um bilionário gestor de fundos e ex-aluno da universidade. Em uma entrevista no início desta semana, ele disse que a reitora deveria renunciar pelo bem da instituição. “Eu não vejo um cenário em que ela sobreviva a longo prazo, ou mesmo a médio prazo”, afirmou.
Nos últimos dois meses, Gay fez questão de abordar as preocupações dos judeus.
Em 27 de outubro, durante um jantar no Harvard Hillel, centro judeu do campus, ela anunciou a formação de um grupo consultivo para ajudá-la a “desenvolver uma estratégia robusta e enfrentar o antissemitismo no campus” e condenou a frase “do rio ao mar“, que é entoada por manifestantes pró-palestinos e condenada pelos judeus como antissemita.
“Nossos estudantes judeus compartilharam relatos dolorosos de momentos em que se sentiram isolados e perseguidos”, disse ela. “Isso me abala até o âmago —como educadora, como mãe, como ser humano. Harvard deve ser um lugar onde todos se sintam seguros e vistos.”
Apesar desses esforços, sua participação na audiência em Washington com outras duas reitoras, Liz Magill, da Universidade da Pensilvânia, e Sally Kornbluth, do MIT, abalou sua gestão. Durante a audiência, a deputada republicana Elise Stefanik, de Nova York, bombardeou as reitoras com perguntas hipotéticas que, no sábado (9), levaram à renúncia de Magill.
“Em Harvard”, perguntou Stefanik a Gay, “pedir pelo genocídio de judeus viola as regras sobre bullying e assédio? Sim ou não?” Gay, então, respondeu: “Pode ser, dependendo do contexto”. Pressionada por Stefanik, Gay acrescentou, alguns momentos depois, que “retórica antissemita, quando se transforma em conduta que constitui bullying, assédio e intimidação, é uma conduta passível de ação, e tomamos medidas.”
Stefanik tentou novamente: “Então, a resposta é sim, que chamar pelo genocídio dos judeus viola o código de conduta de Harvard, correto?”, perguntou a política. “Novamente, depende do contexto”, respondeu Gay. O trecho se espalhou pelas redes sociais e enfureceu pessoas com laços estreitos com Harvard.
Gay tentou conter as repercussões com um pedido de desculpas em uma entrevista publicada na sexta-feira (8) no The Harvard Crimson, o jornal do campus. “Quando as palavras amplificam a angústia e a dor, não sei como alguém poderia sentir algo além de arrependimento”, afirmou Gay.
Ela também disse ao jornal que tinha sido “envolvida” na troca de palavras com Stefanik, mas que “deveria ter tido presença de espírito” durante seu depoimento para voltar à sua “verdade orientadora” —”apelos à violência contra nossa comunidade judaica e ameaças aos nossos estudantes judeus não têm lugar em Harvard e nunca ficarão sem resposta”.