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Guerra na Síria se amplia com nova frente de combate – 03/12/2024 – Mundo

A reativação da guerra civil na Síria, após quatro anos de relativa calma, segue de vento em popa: uma nova frente de combate foi aberta na madrugada desta terça (3) entre as forças do ditador Bashar al-Assad e milícias curdas.

É a segunda dor de cabeça para o regime de Damasco, que no fim de semana perdeu de forma surpreendente o controle de Aleppo, segunda maior cidade do país, para rebeldes radicais islâmicos da HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla árabe).

O novo foco é a região em torno de Deir al-Zor, no nordeste do país, uma importante capital regional próxima do rio Eufrates. Lá, os curdos das SDF (Forças Democráticas da Síria, na sigla inglesa) avançam contra posições do governo, aproveitando o foco de Assad contra a HTS.

Após perder Aleppo, que havia reconquistado em 2016, o ditador enviou reforços e promoveu ataques na região de Hamã, limite sul da ofensiva dos radicais oriundos da rede Al Qaeda que tomaram a cidade. Com isso, o flanco nordeste está desguarnecido.

Em torno de Hamã, Damasco disse ter recuperado vários vilarejos, mas a situação é bastante confusa. A Rússia, aliada de Assad que o salvou da derrrota com apoio aéreo a partir de 2015, seguiu bombardeando posições na capital governada pela HTS e aliados, Idlib.

Houve também ações na região de Hamã, que é ainda mais estratégica do que Aleppo, dada a conexão que a cidade faz com Homs a caminho de Damasco.

Complicando mais ainda o xadrez, foram relatados bombardeios contra unidades de milícias apoiadas pelo Irã, que operam em favor de Assad.

Os ataques foram atribuídos por elas a aviões da coalizão liderada pelos EUA que, desde 2015, lutou para desestruturar e manter contido o grupo terrorista Estado Islâmico na região. Isso ampliaria ainda mais o escopo dos combates, mas não há confirmação independente do que aconteceu.

Os curdos das SDF lutam ao lado de alguns grupos árabes e foram apoiados, desde o início da guerra civil em 2011, pelos Estados Unidos. Em 2019, Donald Trump os traiu, permitindo que milícias seculares apoiadas por Ancara ocupassem faixas de fronteira com a Turquia.

Os turcos são adversários dos curdos e buscam evitar a conexão do grupo étnico entre seu país e a Síria. Apesar disso, os EUA seguiram dando apoio logístico e militar às SDF: no seu orçamento de 2025, o governo Joe Biden previu cerca de US$ 150 milhões (R$ 900 milhões) de ajuda ao grupo.

Ao mesmo tempo, a exemplo da Turquia, classifica a importante agremiação curda PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) como uma organização terrorista. Na terra de Assad, os EUA têm cerca de 800 soldados, a maioria operando ao lado dos árabes do Exército Livre da Síria na base de Al Tanf, perto do Iraque.

Ainda é incerto se toda essa movimentação é garantia da volta de uma guerra civil total ou é apenas uma reacomodação das forças em solo, buscando aproveitar o momento de instabilidade.

O conflito em si, que matou estimadas 500 mil pessoas e deslocou outras 6 milhões, estava congelado desde que turcos e russos acertaram um cessar-fogo entre seus aliados no norte e nordeste do país, em 2020.

Com o apoio aéreo de Vladimir Putin e soldados iranianos e do Hezbollah libanês, Assad consolidou uma posição de força inaudita nos 13 anos de guerra. Mas a guerra subsequente ao ataque terrorista dos palestinos do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, mudou o cenário.

De lá para cá, o Hezbollah foi duramente golpeado e o Irã, que já vivia uma crise política doméstica, se viu sob ameaça de uma guerra total contra Israel e talvez os EUA. Enfraquecidos, esses aliados terão mais dificuldade de apoiar Damasco —no caso do grupo libanês, o cessar-fogo frágil em curso com Tel Aviv o imobiliza ainda mais.

Adensando a dificuldade para Assad, Putin está desde 2022 focado na Guerra da Ucrânia, tendo com isso retirado pessoal e equipamento de seus postos na Síria, a começar pela base aérea de Hmeimin.

Para Israel, a confusão é útil para dificultar o uso de território sírio como ligação entre o Irã e seus prepostos, como Hezbollah, o Hamas e grupos terroristas que operam na Cisjordânia. Ao mesmo tempo, uma desintegração eventual do Estado sírio criaria um ninho para radicais islâmicos sedentos por vingar a guerra em Gaza.

Fonte: Folha de São Paulo

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