Os desdobramentos militares estão concentrados em Gaza, mas a guerra Israel-Hamas tem consequências para todos os cidadãos do mundo, diz a Nobel da Paz Maria Ressa.
Isso porque a guerra de informação entre os dois lados tem como alvos “todos aqueles que carregam um smartphone”, disse a jornalista filipino-americana nesta sexta-feira (10), segundo relato da agência de notícias AFP. “É uma guerra de informação geopolítica.”
Ressa falava na sede da ONG Repórteres Sem Fronteiras, em Paris, no contexto de debates sobre um documento que busca implementar regras éticas comuns para o uso da inteligência artificial (IA).
“Sou jornalista há 38 anos e nunca vivi uma situação como a que atravessamos agora”, seguiu Ressa, perseguida pelo governo e pelo sistema de justiça em seu país de origem, o arquipélago das Filipinas, onde cofundou o nativo digital Rappler.
Ela afirma que o atual conflito no Oriente Médio expõe o uso das deepfakes —imagens alteradas por IA— no contexto de guerras e que “isso só tende a piorar”. “É um período difícil para os jornalistas.”
Nesta semana, Tel Aviv também subiu o discurso relacionado a jornalistas. O gabinete do premiê Binyamin Netanyahu acusou alguns profissionais de serem “cúmplices de crimes contra a humanidade”.
Além do alerta sobre a desinformação pautado pela prêmio Nobel da Paz, há o desafio para a segurança dos profissionais da imprensa. Segundo balanço atualizado nesta sexta pelo Comitê para Proteção dos Jornalistas, 40 jornalistas e outros trabalhadores da mídia foram confirmados mortos neste conflito, sendo 35 de origem palestina, 4 israelenses e um libanês.
Outros oito ficaram feridos em meio às hostilidades, e três foram dados como desaparecidos. Há ainda o caso de 13 jornalistas que foram detidos, e a organização denuncia várias agressões, ameaças e ataques a profissionais da mídia e a seus familiares desde o último 7 de outubro.
Maria Ressa também coassinou carta aberta divulgada por cerca de cem laureados com o Nobel da Paz no último dia 31 em que os premiados apelam à proteção das crianças durante o atual conflito.
“Estamos profundamente chocados com as cenas de crianças mortas durante os massacres do Hamas e no subsequente bombardeio generalizado de Israel na Faixa de Gaza“, afirmava a carta, que também contava com a assinatura do jornalista russo Dmitri Muratov, premiado ao lado de Ressa, e do ex-presidente do Timor Leste José Ramos-Horta.
“Existe grave risco de perda de vidas nas próximas semanas, e crianças de outros países também estão em risco. Crianças palestinas são nossos filhos. Crianças israelenses são nossos filhos. Não podemos nos considerar civilizados se é isso que fazemos”, seguia o texto dos nobéis.
Ressa ganhou o Nobel da Paz em 2021 como demonstração do prêmio em defesa da liberdade de imprensa ao redor do mundo. Ela é autora de “Como Enfrentar Um Ditador”, obra publicada no Brasil em dezembro passado pela Companhia das Letras.
Até esta sexta-feira a guerra Israel-Hamas deixou ao menos 11 mil pessoas mortas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas. O balanço, divulgado durante a amanhã, afirma que ao menos 4.500 seriam menores de idade. Já os ataques da facção terrorista no sul israelense em 7 de outubro teriam deixado 1.200 mortos, de acordo com número recém-revisado.