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O enviado especial chinês para assuntos da Eurásia, Li Hui, disse nesta segunda (5) que “mais de 110 países” apoiam o plano de paz proposto pelo Brasil e pela China pelo fim da Guerra na Ucrânia.
Li concluiu nesta semana uma viagem a Brasília e à Cidade do Cabo, na África do Sul, para discutir uma saída para o conflito que se arrasta por mais de dois anos.
- Ele se encontrou com o assessor especial da presidência, Celso Amorim, enquanto o chefe de relações internacionais do Partido Comunista, Liu Jianchao, teve uma reunião com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.
O plano, anunciado em maio por Celso Amorim e pelo chanceler chinês, Wang Yi, inclui pontos como o congelamento do conflito, a autorização para a entrada de ajuda humanitária e uma saída mediada pelo fim da guerra.
Ucrânia, União Europeia e Estados Unidos, porém, rejeitaram a ideia por considerarem que ela “premiaria” a Rússia e autorizaria Vladimir Putin a anexar territórios ocupados.
A China se recusou a participar de uma cúpula de paz apoiada pela Ucrânia em junho e insistiu na participação igual de Moscou e Kiev. Na ocasião, o presidente Volodimir Zelenski adotou um raro tom crítico aos chineses e acusou Pequim de pressionar seus parceiros a não participarem da reunião.
Por que importa: nem a China ou Brasil esperam de verdade que a proposta apresentada seja aceita pela Ucrânia em um futuro próximo, dado o calendário eleitoral nos Estados Unidos e os riscos de uma negociação que envolva cessão de territórios ser considerada uma derrota política significativa do governo Biden.
- Se Trump for eleito, porém, a coisa muda de figura: o republicano já declarou que não quer a continuidade da guerra enquanto seu candidato a vice, o senador J.D. Vance, fala abertamente em interromper a ajuda financeira e militar aos ucranianos.
o que também importa
★ Os Estados Unidos anunciaram US$ 500 milhões em financiamento militar às Filipinas em meio a tensões com a China. O anúncio foi feito na semana passada durante a visita do secretário de Estado Antony Blinken e do secretário de Defesa Lloyd Austin a Manila. Blinken disse que o financiamento fortalecerá a colaboração de segurança e modernização das forças armadas e guarda costeira filipinas. O secretário de Defesa filipino, Gilbert Teodoro, chamou a ajuda de “um grande impulso para a defesa do país”, enquanto o presidente Ferdinand Marcos Jr. agradeceu o apoio dos EUA, especialmente no Mar das Filipinas Ocidental, onde as tensões com a China têm aumentado . Pequim reivindica quase toda a via navegável estratégica, construindo ilhas artificiais e permitindo o uso de força letal contra navios estrangeiros.
★ A Universidade de Assuntos Civis da China anunciou que vai criar um novo curso de graduação para impulsionar a “indústria do casamento”. O programa, que começa já em setembro, visa “cultivar profissionais para desenvolver indústrias e cultura de casamento”, uma tentativa de reverter a queda demográfica que fez a população chinesa encolher pela primeira vez em 2023. A universidade disse que pretende aceitar 70 alunos de 12 províncias e a graduação terá áreas de concentração como aconselhamento familiar, planejamento de casamentos e desenvolvimento de produtos voltados para “matches” entre desconhecidos. A notícia foi recebida com deboche nas redes sociais chinesas, com vários internautas questionando a eficácia de um curso do tipo no país.
★ O Departamento de Comércio dos EUA planeja proibir software chinês em veículos autônomos que circulam pelo país. A proposta é impedir testes de veículos autônomos chineses nos EUA e proibir aqueles com módulos de comunicação avançada. Montadoras e fornecedores deverão garantir que nenhum software seja de “entidades estrangeiras de preocupação” como a China. O departamento destacou os riscos de segurança nacional. A embaixada chinesa pediu aos EUA que sigam “princípios de mercado e comércio justos”.
pare para ver
Autor: O artista dissidente chinês Badiucao publicou no X uma sátira que ironiza as vitórias chinesas na natação. Fazendo referência ao suposto caso de doping da delegação, denúncia recusada pela WADA (agência mundial anti-doping), ele publicou a imagem com a legenda “o segredo da China para vencer as Olimpíadas foi exposto.” A arte causou polêmica, e vários internautas acusaram o artista de disseminar ódio contra a equipe olímpica.
fique de olho
As redes sociais chinesas ficaram em polvorosa com a vitória do nadador Pan Zhanle nos 100 metros livre nas Olimpíadas. O chinês levou a medalha de ouro com uma vantagem enorme à frente de um americano e um australiano e quebrou seu próprio recorde mundial, completando a prova em 46.40 segundos.
Visivelmente irritado, Pan reclamou de atitudes pouco desportivas por parte dos adversários em entrevista à imprensa estatal chinesa após o fim da prova.
- Ele acusou os rivais dos EUA e Austrália de ignorarem seus cumprimentos e de espirrar água propositalmente no seu treinador.
A reação nas redes foi imediata: muitos exaltaram a vitória do nadador contra os rivais ocidentais. Usuários do Weibo, rede social semelhante ao X/Twitter, compartilharam uma entrevista do treinador australiano Brett Hawke no qual ele chamava o feito de Pan de “humanamente impossível”, deixando nas entrelinhas uma acusação de doping.
Os internautas chamaram as equipes americana e australiana de “incompetentes” e “maus perdedores”. A imprensa estatal chinesa deu tintas ainda mais vívidas à narrativa nacionalista, alçando o jovem nadador de 19 anos ao status de herói nacional.
Por que importa: a equipe de natação chinesa vem sendo alvo de acusações há alguns meses, após o New York Times revelar em uma investigação que 21 atletas testaram positivo para o uso de uma substância que aumenta a circulação sanguínea. A Agência Mundial Antidoping rejeitou a denúncia e aceitou a justificativa de que os atletas foram vítimas de uma contaminação cruzada em um hotel. O caso tem sido constantemente lembrado pela imprensa americana, visto que a China lidera o quadro de medalhas desde o início das Olimpíadas em Paris.
para ir a fundo
- O Grupo de Danças da Universidade Minzu do Noroeste da China apresenta no próximo dia 18 o espetáculo “Cores da China: um Caleidoscópio Étnico” no teatro Gazeta, em São Paulo. Os ingressos são gratuitos, mas limitados. Você pode reservar o seu neste link. (gratuito, em português)
- A Observa China 观中国 lançou um boletim de economia e mercado da China. O compilado é exclusivo para membros da rede e traz análises da economia doméstica privada e pública do país, além de monitorar o relacionamento chinês com países lusófonos. Informações aqui. (pago, em português)