O dinheiro que os Estados Unidos separam para apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia acabou em 27 de dezembro, e não há previsão de novos aportes exceto que o Congresso americano apoie um novo pacote de ajuda militar proposto desde o ano passado pelo governo Joe Biden.
A afirmação, que vinha sendo cantada desde o início de dezembro pela Casa Branca, foi feita na quarta (3) pelo porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby. “Nós demos agora à Ucrânia o último pacote de assistência de segurança. Agora precisamos ter apoio no Congresso para continuar a fazê-lo”, disse.
Ainda há US$ 4,4 bilhões (R$ 21,6 bilhões hoje) à disposição de Biden para livre manejo, mas Kirby sinalizou que não há chance de isso acontecer sem apoio parlamentar ao pacote de segurança de R$ 520 bilhões, R$ 300 bilhões deles para a Ucrânia, apresentado pelo governo no fim do ano e rejeitado no Congresso.
“Sem financiamento suplementar, não há outro pote mágico para buscar apoio à Ucrânia”, afirmou. No mês passado, o porta-voz do Pentágono, general Pat Ryder, havia dado razões além da briga política para a dificuldade em apoiar os ucranianos.
“Certamente nós retemos a opção de gastar todos os fundos [os US$ 4,4 bilhões], mas essas são escolhas difíceis porque, no fim do dia, nós teremos de tomar decisões acerca de nosso próprio preparo e nossa habilidade de continuar apoiando a Ucrânia”, afirmou.
Os EUA são o maior patrocinador ocidental do governo de Volodimir Zelenski. Segundo o monitor de apoios do Instituto para Economia Mundial de Kiel (Alemanha), dos R$ 1,2 trilhão dados até outubro em ajuda para Kiev, os EUA colaboraram com R$ 380 bilhões, 61% dos quais em repasse de armas.
O último pacote de ajuda em 2023, citado por Kirby, foi o 54º desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022. Ele somou US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão) e incluía munição para o sistema antiaéreo Nasams, foguetes de artilharia e lançadores M270.
A situação é de impasse. Os republicanos estão de olho na corrida eleitoral, e dizem que o pacote de segurança de Biden não dá olhos para a crise com os refugiados latinos na fronteira mexicana. Por outro lado, como parte do dinheiro irá para apoiar Israel, não é improvável que a oposição faça gestos à politicamente vital comunidade judaica americana.
No meio do tiroteio fica Zelenski, que vive um momento difícil na guerra, com o fracasso de sua contraofensiva do ano passado e a pressão renovada dos russos, particularmente com ataques aéreos mais pesados do que os anteriores desde a virada do ano.
Ele já falou abertamente sobre o temor de que Biden perca a eleição —se está difícil manter o nível do apoio com o democrata, a queda é vista como certa com Trump. Observadores apontam que a situação complexa, dado que o pacote de ajuda de R$ 250 bilhões que a União Europeia estudava para este ano também está sofrendo atrasos, pode levar a um clima de negociação.
O russo Vladimir Putin tem descartado isso e engrossado o tom de seu discurso, e certamente não irá baixar a guarda até estar reeleito no pleito de março. Mas daí em diante está aberta uma janela para que, caso possa cantar vitória mantendo os 20% que já ocupa do vizinho, algum arranjo seja feito.
Concorre em favor disso o fastio ocidental com os gastos e o impacto da guerra, mas Kiev, por óbvio, não quer ouvir falar em perda territorial. Enquanto isso, ambos os lados se preparam preparam para o prolongamento indefinido do conflito, o que favorece a Rússia, mais capaz em termos de mão de obra e produção militar.