Um verão sem fim? Muitos países europeus, como França, Alemanha, Polônia e Suíça, viveram o setembro mais quente já registrado, assim como muitas outras regiões do planeta.
Nesses países, a temperatura média de setembro esteve mais de 3°C acima do normal, segundo dados dos respectivos serviços meteorológicos. Na Alemanha, a diferença chegou a 3,9°C.
Na Península Ibérica, as temperaturas também foram anormalmente altas para este período do ano e nesta sexta-feira (29) ultrapassaram os 35°C em algumas cidades do sul da Espanha.
Esses dados se somam aos do planeta como um todo, cuja tendência é ultrapassar o recorde anual de temperatura em 2023.
Depois do trimestre de junho a agosto mais quente já registrado, o mundo sofre os efeitos das mudanças climáticas provocadas pelas atividades humanas —agravadas, nos últimos meses, pelo retorno do fenômeno El Niño, que aquece as águas do Pacífico e costuma provocar um aumento das temperaturas globais.
No Cone Sul, o inverno foi especialmente quente. Em meados de agosto, houve ondas de calor em Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.
A situação foi acompanhada de catástrofes naturais cada vez mais intensas. Todos os continentes sofreram com ondas de calor, secas, enchentes ou incêndios, às vezes em proporções dramáticas e com um preço alto em vidas humanas e em recursos econômicos e ambientais.
Diante desta “mecânica implacável” do aquecimento, “ainda não percebemos a gravidade da natureza profundamente estrutural das mudanças climáticas”, diz cientista político e pesquisador belga François Gemenne, um dos autores do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas).
Até que a neutralidade de carbono seja alcançada, os recordes de calor serão batidos “sistematicamente, semana após semana, mês após mês, ano após ano”, alerta.
A próxima conferência climática da ONU, a COP28, que será realizada em Dubai dentro de dois meses, terá como tema central o abandono das energias fósseis para tentar atender às exigências do Acordo de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação à era pré-industrial.
“As mudanças climáticas favorecem um prolongamento [no hemisfério norte] das ondas de calor até a primavera e até o mês de setembro, inclusive no início de outubro”, segundo projetam os especialistas do IPCC, explica a climatologista Christine Berne.
Essa configuração, resultado das emissões de gases de efeito estufa, causadas principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, foi combinada desta vez com um fenômeno meteorológico de ar quente do Saara, que afeta a Europa.
Sendo assim, a França, por exemplo, vive o setembro mais quente de sua história, depois de um verão com temperaturas excepcionalmente altas.
O mês, que começou com uma onda de calor tardia, ficará entre 3,5°C e 3,6°C” acima do normal, com uma temperatura média de aproximadamente 21,5°C, disse Berna.
O aquecimento global tem causado um aumento da temperatura mais forte na Europa do que em nível global. Os especialistas estimam que o clima global já esteja 1,2°C mais quente do que antes da era industrial, um aumento que chega a 1,8°C na França.