O Ministério da Justiça da Bolívia disse nesta quinta-feira (3) que o ex-presidente Evo Morales, líder da oposição e adversário político do presidente Luis Arce, é investigado por supostamente estuprar uma adolescente em 2014 com quem teria tido uma filha.
De acordo com o ministro da Justiça, César Siles, a adolescente tinha cerca de 15 anos na época. Siles fez a revelação durante uma entrevista coletiva. “Observamos com indignação crimes graves que pretendem ficar na impunidade. Refiro-me concretamente a uma menina estuprada aos 15, 16 anos”, afirmou.
Evo tem organizado protestos contra o governo Arce nas últimas semanas a fim de pressionar pela convocação de novas eleições —o próximo pleito está marcado para agosto de 2025, e o ex-presidente é impedido pela legislação atual de concorrer novamente. Evo governou a Bolívia de 2006 a 2019, quando foi forçado a deixar o país pelos militares depois de vencer um quarto mandato.
Um dos protestos consistiu em uma marcha até a capital, La Paz, que terminou em confronto com a polícia e dezenas de feridos. Evo chegou a dar um ultimato a Arce no último dia 23, dizendo que o presidente teria que trocar seus ministros em 24 horas caso quisesse “continuar governando”. O governo Arce considerou a fala uma tentativa de golpe de Estado.
Arce e Evo travam uma ferrenha disputa por controle do partido governista, o MAS (Movimento ao Socialismo), dominado pelo ex-presidente por muitos anos. Ex-ministro da Economia e escolhido a dedo por Evo para sucedê-lo e disputar as eleições de 2020, Arce se distanciou do seu padrinho político com a tentativa do ex-presidente de concorrer novamente ao cargo em 2025 como candidato do MAS.
O racha entre os dois piorou depois da tentativa de golpe militar na Bolívia em junho deste ano. O general por trás da quartelada, Juan José Zúñiga, havia sido removido do posto por Arce um dia antes de cercar o palácio presidencial com tanques por se manifestar contra um eventual retorno de Evo à Presidência e ameaçar o ex-presidente.
Quando a situação foi distensionada e o general, preso, Zúñiga afirmou ter agido a mando de Arce —o presidente nega. Evo disse na época estar convencido que a ação do general foi uma tentativa de autogolpe por parte de Arce para evitar seu retorno ao poder.