Na quarta-feira (30), a África registrou o sétimo golpe de Estado em seu território em apenas três anos. Então, oficiais das Forças Armadas do Gabão foram à TV anunciar que Ali Bongo, que deveria assumir seu terceiro mandato consecutivo após vencer as eleições com 64,2% dos votos, havia sido posto em prisão domiciliar.
O grupo diz que o pleito em questão, realizado no sábado (26), foi inválido. Apoiadores de Bongo, cuja família comanda o país desde os anos 1960, rejeitam, porém, alegações de irregularidades. Relatório mais recente do instituto sueco V-Dem, referência na análise de regimes políticos, descreve o Gabão como uma autocracia eleitoral, com eleições multipartidárias, mas sem outros pilares democráticos.
O episódio em Libreville se dá pouco mais de um mês depois de outro golpe no continente, no Níger. No final de julho, militares detiveram o presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum, e sua família no palácio presidencial e anunciaram a derrubada de seu governo, segundo eles em uma tentativa de “colocar um ponto final no regime que deteriorou a segurança nacional devido à má gestão”.
Com isso, o oeste e do centro da África, que na última década haviam avançado para se livrar de sua reputação como “cinturão de golpes”, voltam a ser tomados por líderes militares. Só Burkina Fasso e Mali, por exemplo, registraram dois golpes cada um desde 2020.
Relembre outros golpes de Estado na África desde 2020
Níger
Em 26 de julho de 2023, os militares anunciaram a derrubada do presidente Mohamed Bazoum. Os golpistas prometeram um período de transição de três anos até devolver o poder aos civis. Em resposta, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) determinou em 10 de agosto a mobilização de uma “força de prontidão” para uma possível intervenção armada.
Burkina Fasso
Em janeiro de 2022, o presidente Roch Kabore foi retirado do governo pelos militares, e o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba assumiu o poder. Meses depois, o militar também foi destituído, e o capitão Ibrahim Traoré, nomeado novo líder em tese até as eleições presidenciais, previstas para julho de 2024.
Sudão
Em 25 de outubro de 2021, os militares liderados pelo general Abdel Fatah al Burhan interromperam um processo de transição para a democracia após 30 anos de ditadura de Omar al Bashir, destituído em 2019. Desde abril passado o país está mergulhado em um conflito entre as forças do militar e de seu ex-número dois Mohamed Hamdan Daglo. Pelo menos 5.000 pessoas já morreram.
Guiné
Em setembro de 2021, o presidente Alpha Condé foi deposto por um golpe militar, e o coronel Mamady Doumbouya assumiu o poder. Os militares prometeram devolver o poder aos civis até o final de 2024.
Mali
Em 18 de agosto de 2020, o presidente Ibrahim Boubacar Keita foi deposto por militares, que formaram um governo de transição. Em 24 de maio de 2021, entretanto, os líderes golpistas foram presos em um novo golpe. Em junho, o coronel Assimi Goita tomou posse como líder de transição. A junta se comprometeu a devolver o poder aos civis depois das eleições, previstas para fevereiro de 2024.