O papa Francisco usou seu discurso na cúpula do G7 —grupo que reúne algumas das principais economias do mundo— nesta sexta-feira (14) para fazer um alerta sobre os perigos da inteligência artificial (IA).
Francisco, 87, foi o primeiro pontífice a discursar em uma cúpula do G7. Diversos líderes o cumprimentaram calorosamente à medida que ele, de cadeira de rodas, era guiado a seu lugar ao lado da enorme mesa oval de reuniões —o papa recebeu um abraço do rei Abdullah, da Jordânia, um beijo do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e conversou longamente com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Compatriota do papa, o presidente da Argentina, Javier Milei, foi outro que o abraçou, repetindo uma cena ocorrida em fevereiro deste ano, no Vaticano. Milei, que no passado chegou a chamar o papa de imbecil e “representante do mal” e a acusá-lo de “interferência política”, vem buscando uma reconciliação com o pontífice desde que ascendeu à Presidência e já o convidou para visitar o país natal, algo que Francisco ainda não fez desde o início do seu papado, em 2013.
Em sua fala, o papa afirmou que, apesar de a IA representar uma “transformação histórica” para a humanidade, é preciso que seu desenvolvimento seja rigorosamente supervisionado de modo a preservar a vida e a dignidade humanas.
Ele enfatizou que a tecnologia ameaça aprofundar ainda mais as desigualdades globais —algo que o presidente brasileiro, Lula, tinha abordado no dia anterior em um discurso em um evento da OIT (Organização Internacional do Trabalho) na Suíça.
Assim, ao mesmo tempo em que a IA tem potencial para ampliar o acesso ao conhecimento pelo mundo, também pode gerar “uma injustiça maior entre nações avançadas e em desenvolvimento ou entre classes sociais dominantes e oprimidas”, disse Francisco.
“Cabe a todos fazer um bom uso [da IA], mas o ônus de criar as condições para que ele seja possível e proveitoso recai sobre a política.”
O pontífice ainda apontou que é preciso impedir que algoritmos se sobreponham às liberdades individuais. “Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança se tirássemos a capacidade das pessoas de tomar decisões acerca de si mesmas e de suas vidas”, disse.
O G7 reúne os líderes dos EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Japão. A anfitriã da cúpula, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, convidou dez outros países para participar das negociações desta sexta.