Pela segunda vez em pouco mais de um mês, uma flotilha de Vladimir Putin chegará ao Caribe. Três navios de guerra irão aportar em Havana neste sábado (27), véspera da eleição presidencial na Venezuela, aliada da Rússia na região ao lado de Cuba e Nicarágua.
Chegarão à capital cubana, que fica a 160 km dos Estados Unidos, a fragata Neustrachimi, o navio de treinamento Smolni e o navio-tanque Ielnia. O grupo, integrante da Frota do Báltico da Marinha russa, ficará três dias no porto antes de seguir em treinamento nas águas da região.
Talvez para não exacerbar os ânimos locais, dado que o ditador Nicolás Maduro disse que sua eventual derrota no domingo (28) poderá causar um “banho de sangue” na Venezuela, a flotilha russa não é tão poderosa quanto a que visitou a região em meados de junho.
Naquela ocasião, participaram da visita um submarino de propulsão nuclear e uma fragata armados com mísseis de cruzeiro e hipersônicos. Foi uma demonstração de força logo após os EUA darem o aval à Ucrânia de empregar as armas doadas para combater a invasão de Putin contra o solo russo.
Também agora não foi anunciada uma visita à Venezuela, como ocorreu com o outro grupo, mas isso não pode ser descartado. De todo modo, a mera presença russa na região sinaliza apoio a Maduro.
A relação entre russos e cubanos remonta à Guerra Fria, que viu um de seus ápices quando Moscou decidiu instalar mísseis com ogivas nucleares na ilha de Fidel Castro. A crise, em 1962, quase desandou numa guerra entre EUA e União Soviética, e acabou com a retirada daqueles armamentos soviéticos de Cuba.
Depois do fim do império comunista, em 1991, Cuba se viu se boa parte da ajuda econômica que recebia do Kremlin, mas a relação política seguiu intensa. Sob Putin, que chegou ao poder em 1999, ela foi reforçada, e há visitas anuais de navios —dois episódios num mesmo ano, como agora, é raro.
Já Caracas caiu na órbita de Putin nos anos de Hugo Chávez no poder, de 1999 a 2013. O país caribenho passou a ser um grande cliente militar russo, comprando de caças avançados a fuzis de assalto. A relação econômica esfriou nos últimos anos, mas segue no campo político.
Tanto Venezuela quanto Cuba são adversários declarados dos EUA, servindo aos interesses russos de manter dissenso no quintal geopolítico americano. Putin chegou a enviar bombardeiros de ataque nuclear para exercícios na região, em 2015, e agora retoma a agenda naval.
Os EUA não piscaram ainda. Na visita do mês passado, deslocaram um submarino de ataque de propulsão nuclear para sua base em Guantánamo, em Cuba, apenas como sinalização de prontidão. O Comando Sul das Forças Armadas dos EUA afirma que as missões russas são acompanhadas de perto, mas que não trazem perigo para o país.