O governo da França irá proibir que as alunas de escolas do país usem a abaya, vestimenta comum em regiões árabes e no Norte da África que cobre quase todo o corpo, com exceção do rosto e das mãos.
O anúncio foi feito neste domingo (27) pelo ministro da Educação francês, Gabriel Attal. Ele justificou a medida ao dizer que a túnica desrespeita as normas de laicidade no ensino do país. “Quando o aluno entra em uma sala de aula, não se deve identificar sua religião ao olhar para ele”, afirmou.
A proibição ocorre após o uso da peça por adolescentes motivar debates na França, sobretudo devido a críticas de ativistas de direita. Éric Ciotti, líder do partido de conservador Republicanos, saudou a decisão.
Embora o Conselho Francês do Culto Muçulmano considere que a vestimenta não representa um símbolo islâmico, o Ministério da Educação do país europeu já havia divulgado, no ano passado, um comunicado autorizando que as escolas proibissem a abaya, bem como bandanas e saias “muito longas”. Especialistas, porém, dizem que as normas eram ambíguas e que não haviam entrado em vigor.
“As instruções não estavam claras. Agora estão, e nós as saudamos”, disse à agência de notícias AFP Bruno Bobkiewicz, secretário-geral do sindicato que representa os diretores de instituições de ensino.
Ao mesmo tempo, o anúncio foi criticado por ativistas de direitos humanos e parlamentares de esquerda. A deputada Clémentine Autain, progressista, afirmou que a medida é inconstitucional e criticou o que chamou “a política da vestimenta”. Ativistas dizem que a lei respalda um discurso anti-imigração, em alta.
A opinião pública, apontam pesquisas, respaldaria um endurecimento anti-imigração no país e reconhece que esse é um debate de paixões: 80% dos entrevistados pelo Instituto Francês Opinião Pública, no final de 2022, enxergam a imigração como assunto que os franceses não conseguem discutir com serenidade.
Além disso, 70% dizem que a França já tem muitos imigrantes e julgam como indesejável que esse grupo aumente. O percentual subiu 6 pontos desde a última pesquisa sobre o assunto, realizada em 2018.
Em 2004, a França proibiu em escolas e institutos qualquer símbolo religioso ostensivo, como o véu islâmico e quipá.