Dominique Pelicot, o principal acusado em julgamento coletivo por estupro que chega à reta final na França, pediu nesta segunda-feira (16) à família que aceite suas desculpas e falou em coragem da ex-mulher Gisèle, a quem ele drogou por uma década para estuprá-la com homens desconhecidos contatados pela internet.
“Gostaria de começar por saudar a coragem da minha ex-mulher”, afirmou o homem de 72 anos no tribunal de Avignon, sul da França, em suas últimas declarações antes do anúncio do veredicto, previsto para quinta (19), em um julgamento que chamou a atenção de todo o mundo.
“Lamento o que fiz, fazer sofrer [minha família] por quatro anos [quando os crimes foram revelados], peço perdão”, disse o réu.
Pelicot afirmou que contou “toda a verdade” desde o início do julgamento, em 2 de setembro, e agradeceu ao tribunal por permitir que se sentasse em uma cadeira especial devido ao seu estado de saúde frágil.
O acusado, que sempre admitiu as sessões estupro contra a ex-mulher, disse que “a privação de não ver [sua] família é pior do que a privação da liberdade”.
“Posso dizer a toda a minha família que os amo. Isso é tudo. Eles têm o resto da minha vida em suas mãos”, concluiu, dirigindo-se aos cinco juízes do tribunal.
Depois de dar a última palavra aos acusados, o presidente do tribunal de Avignon anunciou que os juízes seguiriam para a “sala de deliberações” e que a decisão está prevista, a princípio, para quinta às 8h30 (4h30 de Brasília).
Mas o anúncio do resultado pode ser adiado para a tarde de quinta ou para a manhã de sexta (20), dependendo da duração das deliberações, explicou o magistrado.
Gisèle, que se tornou um símbolo mundial de combate à agressão sexual contra as mulheres, saiu do tribunal sob aplausos e gritos de “bravo” e “obrigado”.
Em setembro, o julgamento ganhou manchetes em todo o planeta, em particular devido à recusa de Gisèle de um processo a portas fechadas e seu apoio à divulgação das imagens de estupro, marcadas pela frase: “Que a vergonha mude de lado”.
No dia 25 de novembro, a Promotoria solicitou a pena máxima possível por estupro com agravante: 20 anos de prisão.
A maioria dos outros 50 réus também é acusada de estupro com agravantes. O Ministério Público pediu de 10 a 18 anos de prisão para 49 deles e 4 anos para o único acusado por tocar em Gisèle Pelicot.
Todos os 50 réus são provenientes de cidades e vilarejos que ficam em um raio de 50 quilômetros de Avignon, onde aconteceu grande parte das agressões sexuais.
Dominique admitiu todas as acusações e afirmou ao tribunal que os 50 corréus também são culpados. As evidências em vídeo impediram os homens de negar que estiveram na casa dos Pelicots, mas a maioria contesta veementemente as acusações de estupro com agravantes, que acarretariam penas maiores.