O líder do Partido Socialista da França, Olivier Faure, afirmou nesta sexta-feira (6) que não aceitará um novo primeiro-ministro de direita, após encontro com Emmanuel Macron no Palácio do Eliseu, em Paris.
Apesar da declaração, Faure sinalizou ao presidente francês que estaria aberto a negociações para participar de uma coalizão que resolva a crise de governabilidade do país, aprofundada após a destituição do premiê Michel Barnier.
A mera abertura ao diálogo provocou reações da Nova Frente Popular (NFP), o bloco unificado (mas repleto de divergências) da esquerda que reúne, além dos socialistas, os ecologistas, os comunistas e a França Insubmissa, liderada por Jean-Luc Mélenchon e agrupamento mais à esquerda do bloco.
“A França Insubmissa não deu qualquer mandato a Olivier Faure, nem para ir sozinho a esta reunião, nem para negociar um acordo e fazer ‘concessões recíprocas’ a Macron e aos Republicanos. Nada do que ele diz ou faz é em nosso nome ou no nome da Nova Frente Popular”, escreveu Mélenchon.
Outros nomes da França Insubmissa se manifestaram, revoltados com a abertura de Faure ao diálogo com o governo.
Manon Aubry, candidata principal do partido no pleito ao Parlamento Europeu de junho, afirmou que o líder socialista está “fazendo o jogo de Macron, que quer cabeça da França Insubmissa”. Eric Coquerel, deputado e presidente da comissão de finanças da Assembleia Nacional, disse que os socialistas “se colocam em uma situação incontrolável que consiste em salvar o macronismo”.
A líder dos ecologistas, Marine Tondelier, afirmou nesta sexta que seu partido também foi convidado a se reunir com Macron, na segunda-feira (9), mas que daria resposta na manhã de sábado.
Macron não disse quando iria escolher um novo premiê após aceitar a renúncia de Barnier, nesta quinta (5). Na quarta (4), a Assembleia Nacional aprovou uma moção de censura contra o primeiro-ministro após a ativação do chamado artigo 49.3 da Constituição para ignorar o Parlamento e passar uma lei orçamentária.
A moção foi aprovada pelo bloco de esquerda e pela ultradireita, em raro momento de concordância entre os polos opostos da política francesa —o que levou Macron a culpar os dois campos partidários por formar uma “frente antirrepublicana”.
A ausência de um novo nome aprofunda incertezas no país com o segundo maior PIB da zona do euro. Os efeitos da instabilidade política, somados a um cenário complexo na economia, com alta dívida pública, podem fazer ondas também na União Europeia.
Um dos nomes cotados é François Bayrou, 73, prefeito da cidade de Pau (pronuncia-se “pô”), no sul da França. Centrista em meio ao cenário polarizado, Bayrou é um veterano da política francesa que já concorreu à Presidência, embora sem muito sucesso, e foi ministro da Educação na década de 1990, durante gestões à direita.
Em entrevista, o político afirmou que um eventual nome de centro para o cargo poderia reunir outras colorações políticas para “superar as divisões, especialmente em um momento em que situação do país é tão grave e inquietante”.
Nomes socialistas, no entanto, como o líder do partido no Senado, Patrick Kanner, reforçaram nesta sexta que se políticos como o Bayrou, que considera de centro-direita, fossem nomeados ao cargo de premiê, o Partido Socialista não participaria do governo.