Um protesto anti-Israel interrompeu um evento do ex-presidente Bill Clinton em apoio à candidata Kamala Harris nesta terça-feira (29) e indicou os riscos que a guerra no Oriente Médio representa para a candidatura democrata.
O pequeno comício de Clinton, lotado de apoiadores da geração X e boomers nostálgicos de sua Presidência (1993-2001), acabou saindo dos trilhos depois da manifestação de uma estudante da Universidade de Pittsburgh, usando um keffiyeh, o lenço tradicional dos palestinos.
“Por que vocês continuam enviando armas a Israel?”, questionou a aluna de 20 anos, interrompendo declarações de Clinton, que rememorava como conseguiu reduzir o déficit fiscal americano em seu governo e alertava para o perigo de um novo governo do republicano Donald Trump.
A aluna, que se identificou à Folha apenas pelo primeiro nome, Faith, fez ainda uma alusão às dezenas de milhares de crianças mortas em Gaza em ataques de Israel.
Clinton disse que iria responder à pergunta quando terminasse de falar —e, alguns minutos depois, dirigiu-se à estudante. Ela fez diversas críticas às mortes de civis e aos bombardeios de infraestrutura em Gaza e disse que Israel tomou à força as terras dos palestinos.
Ao que Clinton respondeu: “Eu concordo com o que você falou”, disse, mas logo depois se emendou. “Quer dizer, acho que concordo, meu aparelho auditivo não está funcionando muito bem, acho que concordo com o que ouvi.”
Clinton fez um longo preâmbulo explicando as tentativas, durante seu governo, de costurar um acordo de paz entre Israel e Palestina e criticou a gestão de Binyamin Netanyahu. “Proteger o atual governo israelense e suas políticas pode piorar a situação”, disse o ex-presidente.
A aluna abandonou o local do evento logo após o final, mas a amiga que a acompanhava e filmou toda a interação —ela se identificou como Bethany, estudante de ciência política— afirmou que pretendia usar o evento para chamar a atenção para a posição americana em relação ao conflito em Gaza. Disse ainda que as duas não concordam com a posição dos democratas em relação a Israel. Pesquisas mostram que a guerra em Gaza pode custar a Kamala Harris votos entre o eleitorado jovem e árabe-americano.
As universidades americanas foram palco de inúmeros protestos de estudantes contra a guerra em Gaza.
Bethany disse ainda que, apesar do apoio americano a Israel, pretende votar em Kamala. “Trump é ainda mais próximo do governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu”, disse.
Faith, por sua vez, disse já ter votado de forma antecipada, mas na candidata do Partido Verde, Jill Stein. A eleição americana é tradicionalmente disputada pelos partidos Democrata e Republicano, os únicos com chances reais de eleger um vencedor, mas há candidatos independentes ou de partidos menores.
Uma das preocupações dos democratas é que a guerra em Gaza e no Líbano leve alguns eleitores mais à esquerda do Partido Democrata a votar em Stein ou a simplesmente não votar em estados onde alguns milhares de votos podem decidir a eleição —como Pensilvânia e Michigan.